Poemas de Marcelo Torres

Leia os poemas "Tudo se tornou livro", "Estar/plantado" e "Urge/ruge "
Marcelo Torres, autor de “Saindo sem avisar/Voltando sem saber de onde”
01/11/2021

Tudo se tornou livro
ou melancolia
nessa insensível
manhã,
jogo uma carta
para o ar
que queima
minha infância
de volumes
pérvios
onde versos
assolam a construção
de meus ossos
como um conto/prosa
em uma fazenda,
páginas,
letras tatuadas
nas costas
da morte,
amores/sacanagens,
trejeitos
de quintais,
onde deitado
na rede sacolejo
lendo mais uma obra
levantando
hipóteses
sobre a miséria
de amigos
que caminham sós
sobre os viadutos
tentando arrumar
qualquer trabalho
para poderem escrever
ou comer
:
que para eles
são a mesma coisa

Estar/plantado ao seu lado como se estivesse estendido com um pano do
oriente estampado de epigramas,
sem rumo, embaixo de uma chuva de dentes-de-leão,
ambos sendo a didática da viagem, onde a semana começa a incomodar-nos.
Tu com esse novo cabelo começaste a acumular mistérios,
nessa faculdade terna, isolada,
a taça acariciada na singeleza de quem tem alguma esperança
é posta em cima da mesa, já é tua memória a afogar-se,
na trança dos dias amarrotados em teu guarda-roupa; cada um segue o seu dever.

Urge/ruge o ato é ler o firmamento, falanges de humanos no lugar errado
decesso ambiental por quilômetros onde a visão toma eletrochoques
financeiros.
Tu saíste para o bar sem teu canivete espelhado, uma rodada amarga.
Não é essa força movida a estampido teu pensamento da não-taciturnidade,
da preservação afogaste teu traço, pois queria a eternidade
longe dos mastros envoltos que há décadas boiam, dessa ressurreição
absurda, material, metafísica,
ofertada pela bestialidade de cartuchos, sendo recarregados como pulsão de vida.

Marcelo Torres

Nasceu em Palmares (PE), em 1984. Publicou Vertigem de telhados (2015),  nadar em cima da rua (2015), Páthos de fecundação e silêncio (2017) e Poemas tímidos e gelatinosos (2019). Sua obra mais recente é Saindo sem avisar/Voltando sem saber de onde (2020).

Rascunho