Endechas a Frida Khalo
Olhei no espelho e te vi:
Meu rosto em cores e vincos.
Sobrancelhas siamesas,
Nas orelhas, lindos brincos.
O lápis rompe uma artéria
E lá se vão as certezas,
O poema desenha uma
Idéia, sou a terceira.
Uma, ocidental em branco,
Outra, mexicana ardente,
Eu, terceira vacilante,
Entre esses mundos distantes.
Miro a tua dor serena,
No berço, cama, caixão,
Aperto a tua mão, queimo,
Pronta pr’uma transfusão.
Ficaste com teu Diego,
Mas coroada de amantes,
Deles não tiveste medo,
Só (de) ficar dele distante.
Pinto teu retrato em cores
De imperfeição literária,
Não posso imitar as dores
Só posso invejar a arte.
Borboletas no colete
Voam em busca de flores,
Pode ser vermelho sangue
Do teu corpo em fragmento.
Poema despalhetado,
Sem vergonha ou argumento…
Que quer mesmo é beijar a
Boca do teu sofrimento.
…
Dois gatos
Quantas patas têm dois gatos?
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Os dois gatos de minha mãe
Têm sete patas.
A branquinha chegou primeiro
E, apesar de ter sido acostumadas às gentes,
Não gosta de ninguém
Só das roupas das visitas,
Da poltrona nova da minha mãe,
De camas desfeitas e
Almofadas lisas.
O cinza deixou-se ficar em um cesto,
Na porta da minha mãe,
Perna traseira direita desfeita e bichada.
Gosta de carinho,
De refeições enlatadas,
De deitar-se em corredores e outros acessos e
De ver a branquinha passar…
Carinhos se fazem melhor em poltronas lisas e camas desfeitas,
Mesmo que as refeições sejam enlatadas
E consumidas em lugares pouco apropriados.
As visitas com roupas cheias de pêlos tossem e saem de mansinho.
Os gatos da minha mãe reinam…
Suas oito lições são dadas em sete pulinhos.