Livre
Descubro a música do corpo,
no espaço do quarto e danço livre
do que pode ser imperceptível, pandemônio.
Danço,
porque minha rotina é olhar para as estrelas.
Ter esse exagero de sinceridade comigo mesma.
Desde pequena minha coragem
é fabricação caseira.
…..
O que foi possível viver
Não renego nenhum dos amores que tive.
Abro a janela,
o beija-flor de corpo aberto
lembra outro que carregava o mundo.
Não renego o que foi possível viver sem medidas:
um tempo de me assumir fera
nos momentos absurdos e belos.
Não fiz o filho. Desejado?
Amei na total falta de estrutura.
Nenhum dos homens foi a casa.
…..
É uma foto?
Escrever a imagem que está perto da janela.
Não descrever.
Registrar sua face limpa
que preenche e esvazia a noite.
Uma coisa é sentir
outra perceber.
Depois movimentar a câmera.
É que de perfil existe esta rara luz
que vem do rosto,
dos pequenos nascimentos:
o movimento dos braços,
o que aparece no corpo ampliado, consciente.
Uma coisa é desejar
outra permitir.
Escrever
sei me revelar
na companhia da águia? Dos tigres?
…..
Uma história
Não posso trazer de longe a casa que tinha
a cristaleira com vidros bordados,
as flores ensopadas de colorido,
e a altivez de uma garça muito branca
que apelidei de Maria Elegância.
Nem uma pena de Maria voou
para dentro dos bolsos quando deixei a casa.
Hoje, se fecho os olhos,
posso imaginar cada tijolo,
o sol que ficava ali, no número 11.
Do mundo adquiri contas a pagar.
E Maria Elegância é só uma ternura antiga.