Despedida no espelho
e sem se voltar,
partiu.
levava no bojo do bolso
um halo de rosto,
restos do meu corpo
que já não sabia dizer.
quem sabe não seja um pouco isso envelhecer:
esquecer o rastro das palavras
que, um dia, te esquecerão.
…
Primavera, 2021
chegou o tempo da vida minúscula
dos gestos poucos,
porém precisos.
mínimos
como o imprevisível corpo
de um texto.
um corpo,
o texto
vasculhando
nossos avessos
a olho nu
…
Poema mudo
há algo de extraordinário num poema nunca lido:
a incompreensão do mundo
no silêncio intocável
do precipício,
de quando a linguagem
era pura
relação.
…
Memórias do meu presente
minhas retinas
espelham os caminhantes de Ítaca,
suas cartas abandonadas
no alto-mar das fronteiras,
tempo em arpejos,
à deriva.