Poemas de Laura Pugno

Leia seis poemas "sem titulo" de Laura Pugno
Laura Pugno, autora de “Sirene”
01/04/2024

Tradução: Patricia Peterle

neve,
tu sei venuta qui,
sei venuta come la neve

questa è la voce, i rami di ciliegio nudi,
la tua voce e ora

ora, nelle macchie di neve
le macchie di sole —

tutto sembra diventato neve sulla terra

 

neve,
você veio até aqui,
você veio como a neve

esta é a voz, os ramos nus da cerejeira,
a sua voz e agora

agora, nas manchas de neve
as manchas do sol —

tudo parece ter ficado neve na terra

ora, non dici il nome
nevichi lentamente,
la voce esce soffocata
tutto è sotto una coperta di lana è cosa

niente faceva dire,
verrà, vedrà al buio
la lingua rimasta è poca,
devi con questa, di nuovo ora

 

agora, não diz o nome
você neva lentamente,
a voz sai sufocada
tudo está sob um cobertor de lã é coisa

nada fazia dizer,
virá, verá no breu
a língua que sobra é pouca,
você deve com ela, de novo agora

i campi si dilavano bianchi
quasi nord,
lentamente

abbi fiducia, la neve coprirà
il mondo, come conosciuto

 

os campos desbotam brancos
quase norte,
lentamente

tenha confiança, a neve cobrirá
o mundo, que se conhece

color latte,
copre il bagliore
lo senti sul palmo delle mani,
la luce intravista nell’acqua

confusa, e si fa alba,
neve nuova nel sole

 

cor de leite,
cobre o clarão
dá pra sentir na palma de suas mãos,
a luz entrevista na água

confusa, e chega a aurora,
neve nova no sol

Questo è un quaderno d’appunti, in territorio
selvaggio. A partire dalla parola: selvaggio. Le
cose che scriverò qui, potrà sembrare, avranno
poco a che fare con ciò che normalmente per
selvaggio s’intende, parole e cose come corpo,
romanzo, comunità.

 

Este é um caderno de anotações, em território
selvagem. A partir da palavra: selvagem. As
coisas que vou escrever aqui, poderá parecer, têm
pouco a ver com o que normalmente se entende
por selvagem, palavras e coisas como corpo,
romance, comunidade.

Cosa sappiamo col corpo?

Che è il primo luogo del selvaggio. L’irriducibile.
Può essere domato, addomesticato?

(Non rispondere).

Invecchia, si trasforma, perde sangue, crea corpi suoi, muore per corpi estranei.
Alla prima occasione si libera. Cercando anche la distruzione, se necessario.
Può essere persuaso?
Forse.

Dove sei, ora che parli del corpo? Davvero sei in un giardino?
Un giardino immaginario, i giardini di Kyoto. E il giardiniere zen che sposta la sabbia davanti a te con il rastrello?

No, ma questa è una conversazione.

Forse sei tu in un giardino, a leggere in un giardino, su carta o schermo. Ora che leggi, prendi forma nella mia mente. Tu sei da qualche parte, davanti a me.

Osserviamo insieme.
(E l’osservatore, lo so e lo sai, modifica l’oggetto osservato).

Il pensiero che cerca la sua materia, la sua forma, la lingua che forma una parola.
Nella poesia c’è sempre un tu. Anche quando è segreto, in qualche modo. Anche qui.

Tra parola e parola, c’è il vuoto. Dovrebbe esserci il senza-sforzo. Lo stato di flusso, il fluire nel bianco della pagina, nella mente di chi legge-ascolta. Se stai scrivendo o stai leggendo, sei da solo.

Sei da solo?

 

O que sabemos pelo corpo?

Que é o primeiro lugar do que é selvagem. O irreduzível. Pode ser domado, domesticado?

(Não responda).

Envelhece, se transforma, perde sangue, cria corpos seus, morre por corpos estranhos.
Na primeira oportunidade se liberta. Buscando até a destruição, se necessário.
Pode ser persuadido?
Talvez.

Onde você está, agora que fala do corpo? Você, realmente, está num jardim?
Um jardim imaginário, os jardins de Kyoto, e o jardineiro zen mexe na areia à sua frente com o rastelo?

Não, mas essa é uma conversa.

Talvez você esteja em um jardim, lendo num jardim, num papel ou numa tela. Agora que leio, você toma forma em minha mente. Você está em algum lugar, na minha frente.

Observemos juntos.
(E o observador, eu sei e você sabe, modifica o objeto observado).

O pensamento que procura busca a sua matéria, a sua forma, a língua que forma uma palavra.
Em poesia, há sempre um tu você. Mesmo quando é secreto, de algum modo. E também aqui.

Entre palavra e palavra, há o vazio. Deveria haver o sem-esforço. O estado de fluxo, o fluir no branco da página, na mente de quem lê-escuta. Se você está escrevendo ou lendo, está sozinho.

Você está sozinho?

Laura Pugno

Nasceu em Roma (Itália), em 1970. É poeta, ensaísta e escritora. Foi diretora do Instituto Italiano de Cultura de Madri. É uma das responsáveis pela coleção I domani da editora Nino Aragno. Os fragmentos traduzidos aqui pertencem a dois de seus principais livros: Bianco (2016) e In territorio selvaggio (2018).

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