Poemas de Larry Levis

Leia os poemas traduzidos "O poema que você me pediu", "Poemas do Mágico – 1. As feridas da saída do Mágico", "Vadiagens em Los Angeles – 1. Casa de repouso", "Minha única fotografia de Weldon Kees" e "A posse da noite – parte 1"
Larry Levis, poeta americano
01/06/2023

Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

The poem you asked for

My poem would eat nothing.
I tried giving it water
but it said no,

worrying me.
Day after day,
I held it up to the light,

turning it over,
but it only pressed its lips
more tightly together.

It grew sullen, like a toad
through with being teased.
I offered it all my money,

my cloths, my car with a full tank.
But the poem stared at the floor.
Finally I cupped it in

my hands, and carried it gently
out into the soft air, into the
evening traffic wondering how

to end thing between us.
For now it had begun breathing,
putting on more and

more hard rings of flesh.
And the poem demanded the food,
it drank up all the water,

beat me and took my money,
tore the faded clothes
off my back,

said Shit,
and walked slowly away,
slicking its hair down.

Said it was going
over to your place.

O poema que você me pediu

Meu poema não quis comer.
Tentei dar-lhe água,
Mas ele disse não,

me preocupando.
Dia após dia,
deixei-o contra a luz,

torcendo-o,
mas ele apenas apertava os lábios
com força.

E foi ficando taciturno, como um
sapo ao ser provocado.
Ofereci a ele todo o meu dinheiro,

minhas roupas, meu carro com tanque cheio.
Mas o poema fitava o chão.
Até que enfim o segurei

em minhas mãos, e levei-o com cuidado
para o ar fresco lá de fora, para
o trânsito noturno, pensando em como

terminar nosso relacionamento.
Naquele ponto ele começou a suspirar,
apertando com mais e mais força

marcando a pele.
E o poema exigiu comida,
bebeu toda a água,

bateu em mim e pegou meu dinheiro,
rasgou as roupas desgastadas
das minhas costas,

disse, Merda,
e foi embora, calmamente,
ajeitando o cabelo com cuspe.

Disse que estava indo
te encontrar.

Magician poems – 1. The Magician’s exit wound

All day
the sky has the look of dirty paper.
My shadow stays indoors.
I watch its step,

and plan my tricks.
This evening,
the loneliness of disappearing acts!
I think of

poking my head through the sky,
and, in those frozen pressures,
of breaking into
blood on a cloud.

Poemas do Mágico – 1. As feridas da saída do Mágico

O dia inteiro
o sol parecia um papel amarfanhado.
Minha sombra ficou em casa.
Observo seus passos,

planejando meus truques.
Nesta noite,
a solidão dos atos de fazer sumir!
Eu penso em

espetar minha cabeça no céu
e, nas atmosferas geladas,
me transformar em
sangue numa nuvem.

L.A., Loiterings – 1. Convalescent home

High on painkillers,
the old don’t hear
their bones hollering
anything tonight.
They turn
harmless and furry, licking
themselves good-bye

They are the small animals vanishing
at the road’s edge everywhere

Vadiagens em Los Angeles – 1. Casa de repouso

Dopado de analgésicos,
os velhos não ouvem
os ossos berrando
qualquer coisa à noite.
Eles se tornam
inofensivos, peludos, lambendo
uns aos outros, em despedida

São os animaizinhos que desaparecem
nos acostamentos das estradas por aí

My only photograph of Weldon Kees

10 p.m., the river thinking
Of its last effects,
The bridges empty. I think
You would have left the party late,

Declining a ride home.
And no one notices, now,
The moist hat brims
Between the thumbs of farmers

In Beatrice, Nebraska.
The men in their suits,
Ill fitting, bought on sale…
The orange moon of foreclosures.

And abandoning the car!
How you soloed, finally,
Lending it the fabulous touch
Of your absence.

You’d call that style—
To stand with an unlit cigarette
In one corner of your mouth,
Admiring the sun on Alcatraz.

Minha única fotografia de Weldon Kees

10 da noite, o rio pensando
Em seus últimos efeitos,
As pontes desertas. Eu penso
Que você sai tarde da festa,

Dispensou uma carona.
E ninguém se dá conta, agora,
O chapéu úmido escorregando
Entre os dedos dos fazendeiros

Em Beatrice, Nebraska,
Os homens em seus ternos,
mal cortados, comprados nos saldos…
A lua laranja das hipotecas.

E abandonando o carro!
Como você solou, finalmente,
Dando-lhe o toque fabuloso
De sua ausência.

Você chamaria de estilo —
Ficar com um cigarro apagado
No canto da boca
Contemplando o sol sobre Alcatraz.

The ownership of the night – 1

After five years,
I’m in the kitchen of my parent’s house
Again, hearing the aging refrigerator
Go on with its music,
And watching an insect die on the table
By turning in circles.
My face reflected in the window at night
Is paler, duller, even in summer.
And each year
I dislike sleeping a little more,
And all the hours spent
Inside something as black
As my own skull…
I watch
This fruit moth flutter.
Now it’s stopped.

A posse da noite – parte 1

Cinco anos depois
Estou na cozinha da casa de meus pais
Novamente ouvindo a velha geladeira
Prosseguir com sua música,
E observando um inseto morrer sobre a mesa
Girando em círculos.
Meu rosto refletido na janela, à noite
Está pálido e baço, mesmo no verão.
E a cada ano
Me incomoda dormir um pouco mais,
E todas as horas desperdiçadas
Dentro de algo que tão escuro
Quanto o meu próprio crânio…
Eu observo
Esta mariposa rodopiar.
Agora parou.

Larry Levis
Nasceu em Fresno, Califórnia (EUA), em 1946. Foi um poeta premiado e muito admirado em sua breve vida. Levis deixou publicados cinco livros de poemas, e mais três coletâneas póstumas saíram após sua morte, ocorrida em 1996, por conta de uma overdose de cocaína.
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho