Poemas de Langston Hughes

Leia os poemas "Poema", "Saídas", "Cansado" e "Fim"
Langston Hughes, poeta, ativista social, novelista, dramaturgo, comunista e colunista norte-americano
01/02/2003

O blues, o banzo, o samba-canção. Qual a cor da poesia? Qual a língua capaz de expressar o sentimento de uma raça que não é raça, de uma cor que não é cor, de uma dor que transcende a compreensão de quem nunca a experimentou. Ser outro na sua própria terra. Ver no outro a impureza do incolor (parafraseando, claro, Drummond). Langston Hughes (1902-1967), poeta norte-americano, conseguiu expressar tudo isso sendo negro numa terra de brancos. Os seus poemas são, no mínimo, vigorosos. São blues. Tentar traduzir blues é, mais ou menos, um americano procurar traduzir saudade. Tem certas coisas que não se traduzem, palavras principalmente. Deve-se senti-las. Não algo pontual, feito alfinetada. Mas contextual: corpo lavado em uma cachoeira.

Poema

Todos os sons da selva palpitam no meu sangue,
E todas as luas quentes e selvagens da selva brilham na minha
Alma.
Tenho medo desta civilização –
Tão rígida,
Tão forte,
Tão fria.

Saídas

O mar é profundo,
A faca é afiada,
E o ácido do veneno queima —
Mas todos trazem descanso,
Todos trazem a paz
Que a alma cansada
Tanto espera.
Todos trazem o descanso
Na ausência
De onde
Alma alguma retorna.

Cansado

Estou tão cansado de esperar,
Para que o mundo torne-se bom
Belo e gentil,
Você não?
Vamos pegar uma faca
E cortar o mundo em dois,
E ver o que os vermes estão comendo
Na casca.

Fim

Não existem
Relógios nem paredes,
E não existe tempo,
Não há sombras que se movem
Pelo assoalho
Desde o amanhecer até o crepúsculo.

Também não há luz
Nem escuridão
Do lado de fora da porta.

Não existe porta!

Marco Aurélio Cremasco

Nasceu em Guaraci (PR). Tem publicado os livros de poemas Vampisales (Editora da UEM, 1984), Viola caipira (edição do autor, 1995), A criação (Prêmio Xerox/Livro Aberto, Editora Cone Sul, 1997), fromIndiana (edição do autor, 2000), As coisas de João Flores (Editora Patuá, 2014); o livro de contos Histórias prováveis (Editora Record, 2007) e o romance Santo Reis da Luz Divina (Prêmio Sesc de Literatura, finalista do Prêmio Jabuti, Editora Record, 2004).

Rascunho