Passeio de domingo
E se perderam no parque
como se possível fosse
encontrar na jaula dos leões
a criança que sumira
na penúltima visita. Nada
denunciaria os olhos tristes
por trás das lentes escuras
e, do sorriso da boca, o giz
da secura, nada denunciaria
que se perderam no parque
como se fosse possível
encontrar-se.
…
Hoje (é sempre um dia muito bom para morrer)
Um dia bom para morrer
é sempre hoje. A alvorada
nos engana. Hoje é o dia.
Ir ao bar com alguns amigos,
sorrir de qualquer coisa,
mostrar, solene, nova poesia.
Nada nos leva até a aurora
pela mão. Vamos seguindo,
sós, como vimos. Sóis nos dirão.
Um dia, rindo, em alguma praia.
Ou amando, quem sabe,
na escuridão do quarto-abrigo,
bombas explodirão
o novo ano e nossa vida
será quase isso,
quase aquilo,
breve biografia sem senão.