Ângelus
Sob o sono dos sinos, silente,
o caminho velho,
de ferro entre os telheiros.
Telégrafos telégrafos telégrafos
de interrompidos fios, hirtos
restos de renda, sem bilros.
Moleza discreta de insetos,
frios no chão de areia
ou sob o oco da madeira:
dormentes, urupês, orelhas.
Apenas, leves, borboletas,
amarelo sobre a ausência de cabeças,
o prisco rasgo de céu azul,
sem sutilezas.
O viés ameno de um vento,
o obrar em esculturas de esterco
seco, em alto e baixo
relevo.
Muro branco de azulejos,
pele de reboco entre avenca
e fendas, resguardo do que foi,
se já não era. Heras.
Heras.
Bocejo ao longe,
parco fôlego em carvão e bronze
do último trem, que não viera.
Um resto de banco, o chicote, o colchete,
bota e esporas do estafeta,
cuja boca, que hoje escarra,
já não beija.
E um medo em mim,
que vejo, de que a vida
isso mesmo (e só)
seja.
…
Arquitetura
Não, não penetra
o pênis carne alguma.
Apenas se move
no oco, onde se esfuma,
em estulto volume
ou baixa estatura.
Bole onde se encaixa,
perdura, dilata-se
no berço em que se deita,
estreita faixa, ranhura,
de onde (supõe) brotará
em noite cerrada ou pleno dia,
riso rígido em secura,
não o gozo (que não vira),
mas o choro de um novo ser
em sua nova carnadura.