entre a simbiose dos corpos
entre a simbiose dos corpos
e a sebe das farpas
a sarça
o amor de apolo
na dormência do colo
o oco das coxas
raízes rasgando os meus pés
transpassando o pó que o sol pisava
vi os ramos engolindo dedos
vi os braços eclodindo braças
e quase esqueci que o calor me perseguia
que eu fugia de um deus
apolo fez dos meus dedos sua coroa
enquanto a seiva escoava
no gozo de uma árvore
grão de mostarda
o dia começa às três horas,
os grilos ainda emulam a partitura das arritmias.
o homem deita o peixe na frigideira coberto por farinha,
toma o café sem açúcar sem coar.
a borra é persistente na caneca de barro.
os pratos sujos ficam para a volta.
tira os chinelos, veste a regata,
confere as iscas no balde.
pousa a vara sobre os ombros
numa marcha irresoluta ao mar.
escuta o rugir dos ventos enquanto marcha,
o céu está sujo de estrelas,
o barco dardeja sob a lua.
a madeira é membro das árvores pequenas,
por pouco seria do fogo e não da água.
com esforço rege o barco
e toma a proa como escudo das ondas.
com esforço rema entre sargaços
e quase não tem força de encontro às plantas.
anseia que o remo seja fiel ao homem e não ao mar.
afasta-se do quebra-ondas e recolhe os remos.
madeira e homem dançam ante o ritmo das águas.
a dança debruça o balde de iscas sobre o casco,
fazendo do barco uma malga com cabeças de peixe.
escolhe a cabeça mais gorda para o anzol,
e pensa no tamanho do corpo que essa cabeça teria,
e pensa no peixe vasto que engoliria essa cabeça.
a ponta do anzol risca seu indicador,
a gota de sangue é um grão de mostarda.
o espírito do oceano é uma chama
que se alimenta de sal e homens magros.
o espírito do oceano é um sopro
que entope as artérias de homens cansados,
enquanto caçam os filhos do mar.
o braço esquerdo deixa pender a vara de pesca,
a boca enrijece o fonema de um grito.
o passo não suporta o balanço dos ventos,
o corpo deixa-se levar para fora do barco,
as estrelas observam o homem e o mergulho.
cai no abismo em câmera lenta.
se por acaso uma raia te encostar o dorso,
lembra-te que em atlântida todos os peixes são pássaros.