Poemas de Divanize Carbonieri

Leia os poemas "Intento", "Marca", "Mãos" e "Indicador"
Divanize Carbonieri, autora de “Entraves”
01/01/2022

Intento

a mão braquidátila
não mais datilografa
nem escreve à caneta
com caligrafia firme

a mão braquidátila
se estica sobre o teclado
seus dígitos encurtados
cobrem todos os caracteres

a mão braquidátila é como um cabo
que conecta o cérebro à máquina
instrumento que capta num átimo
o intento de uma arte máxima

Marca

a mão braquidátila
também é blasfema
emblema infame
de um daimon maldito

metacarpos retraídos
na metade das palmas
plasmando a marca
de um caim renascido

Mãos

o que mais sei de mim
são as mãos

conheço-as melhor do que a face
traduzida por superfícies
que a refletem sempre invertida

com as mãos sinto a vibração
das criaturas vivas

uma oscilação entre extremos
o que muito arde
e o que está gélido

portando armamentos
brandindo ferramentas

as mãos são a parte que nesse corpo mais vale

Indicador

o indicador
com seu papel de bússola

aponta rumos
sela pontos
perfura bolos

imprime no ar uma elipse
ao se mencionar o infinito

comenta-se que o segundo numeral
surgiu de uma ligação em v
delineada pelo índex
entre mim e você

Divanize Carbonieri

É autora dos livros de poesia Entraves (2017), Prêmio Mato Grosso de Literatura, Grande depósito de bugigangas (2018), A ossatura do rinoceronte (2020), Prêmio Flipoços, e Furagem (2020), além das coletâneas de contos Passagem estreita (2019), finalista do Prêmio Jabuti, e Nojo (2020). Foi finalista do Prêmio Guarulhos na categoria Escritor(a) do Ano em 2020 e segunda colocada no Prêmio Off Flip na categoria Conto em 2019. É editora das revistas Ser MulherArte e Ruído Manifesto e integra o Coletivo Literário Maria Taquara.

Rascunho