Eternulidades
Oui, M. Laforgue!

São Paulo, mictório das Musas! onde
a coragem é feita à Table Ronde,
encher o peito às margens do rio-charco,
lá onde a vera vida hoje se esconde:
como o amigo ao traidor em Plutarco.
Entupidos de cristianismo e pornografia
andam todos pela cidade
sem comer; a anorexia
compensa a falta de privacidade.
Um trabalho mais nobre:
polícia, cães que mordem,
isto é,  manter a ordem,
cães e balas sobre o público
que sorri e bate palmas;
ora, direis, desmanchar zero quilômetro.
Pouco a pouco, os passos dão com ama-
zonas,  oh, esfigmomanômetro!
São Paulo, onde se pede paz
como se pede uma guerra,
poça de notícias amargas,
provinciano chique,
desfiles de moda me comovem.
Shirley Mallmann, Gisele Bündchen —
vraiment la plus belle du monde —
les ailes du Paradis m’ont seduit,
e aqui abro uma exceção para a beleza,
pois a beleza é sempre pouca,
difícil
impiedosa.

Mas houve aqueles poetas que só suspiravam
de dentro do losango  de seus corações,
por exemplo, o Mário.
“Mas, ora, ele não era um grande poeta?”.
— Querer mudar de assunto,
evitar constrangimento,
dormir ao relento após ter magoado a todos. —
É embaraçoso
declarar meu amor a Nossa Senhora a Lua?
que empresta um pouco desse brilho eterno
a tantas eternulidades.
Pousada delicadamente sob as patas serrilhadas
de mister Armstrong, ela acena com lençóis de nuvem:
Aqui! Aqui!
Sorella La Luna!
Espero vivamente que esteja vendo
teu rosto
redondo ao invés de

…

Entre

os dedos simples cerzindo uma
blusa e as roupas balançando nos
varais o fundo da casa como um
jardim o verde que brilha o verde
cinzento o vento estufa os tecidos as
nuvens partem para longe a memória
é o encaixe imperfeito entre
peças de devoção e peças
de maldição entre o amor do
tempo e a morte entre as
roupas balançando nos varais e
o verde cinzento construído sobre
o meu jardim verde que
brilha.