futuro sob controle
agô!
já posso abrir o búzio das palavras?
na cinza da fogueira desmedida
resta o pó das fotografias
sinto:
carpideiras em seu ofício gratuito
vertem cachoeiras interditadas
lágrimas não transportam o vírus
submergem os pontos cardeais
escuto:
a orquestra das mães em desalinho
reabre o suntuoso teatro nacional
sinfonia lembrando a morte
dos filhos e sonhos extraviados
vejo:
fascismo é lembrança em desuso
nas casas, cabeças e cacimbas
os necropolíticos pomares
agonizam colheitas inférteis
leio:
há gritos em braile nas ruas e becos
respostas que ainda cochilam
nas cartas dos artistas tombados
escrevo:
findou-se a crise
eis a vida preservada
…..
oferenda
deitei a coroa de medos
no barco das incertezas
agora repouso perplexa
nas velhas tábuas das marés
…..
arpejo
a boca do sertão
impiedosa
engole meus desalinhos
arco verde, flecha tonta
sagas abertas coração ferido
urgências de canto
estufa esquife estúdio
a boca impiedosa
diz culpa
se eu desistir