eu penso em
preto todo
dia
me afeto em
preto todo
dia
mesmo
quando não
digo nada
o que faço em
preto todo
dia
o que amo em
preto todo
dia
não mata,
movimenta
água
alimenta
abraça
…..
não é só sobre mim,
é sobre os meus
que nem conheço tanto assim
mas que são consanguíneos aqui
onde está aterrada sabedoria
onde suor e sangue molharam a terra
e construíram tudo
tudo
não é só por mim
são pelos que acreditam na cour age
na ginga que só quem tem tem
mesmo em praças cidades espaços
com nomes de quem nunca
bateu um prego na barra de sabão
e não bota fé no poder de bater cabeça
e que paraíso é no chão
…..
do lado do fogão de lenha
de vovó
tem uma janela
dum entardecer silencioso
e cheio de saber
dela
na salinha de água
de vovó
tem uma janela
moringas porrões
dois filtros de barro
que ensinam a arte
da espera
beber água nunca foi somente engolir líquido
beber água é tecnologia de gente de ponta
que des
envolveu a cartografia andarilha de
levar sonho para dentro
beber água no copo ariado
é amar o sol deitando
é acordar no sonho-chuva
fazer escasso render tanto
transbordar partilha