Poemas de Bárbara Lia

Leia os poemas "Deus no orvalho" e "O que me pertence"
Bárbara Lia
01/06/2003

Deus no orvalho
(para Jorge Luis Borges)

Jardim perfumado de Istambul.
Sol intolerável beija a rosa azul
no vaso branco, dois cães cor da lua
ao redor.
Teus olhos se perdem na rosa nua.
Olhos da cor do Mar Cáspio na aurora.
Gota de orvalho baila na pétala.
Cristal.
Ponto no espaço — Aleph
descortina o universo.
Sonhos enxertados de sóis, desertos,
aromas, fauna, primavera, borrascas.
Todo universo na gota clara
que cobre a rosa. A lágrima desce solar
ao lábio carmesim, e o peito arde de amor e luz.

O que me pertence

O que é maior que eu
faz parte de mim.
A chuva cabe no mar,
a areia no deserto. Sempre foi assim.

O que é maior que eu
abraço feito fosse Deus.
As coisas pequenas vazam.
Choro por elas, uma noite talvez.

No outro dia
sol clareia a alma.
Descubro o que é meu

para sempre. Os sonhos, as lembranças.
Nossos passos calmos na areia.
O riso dos meus filhos, isto me pertence.

Bárbara Lia

Nasceu em Assaí (PR). Publicou sete livros de poesias e dois romances. Criou a coleção 21 Gramas – inventário poético, registro de sua obra em livros artesanais. Integra, entre outras, a Antologia O que é poesia?O melhor da festa 3 e Concurso nacional de poesias Helena Kolody.

Rascunho