Geografias Lunares
Cargas de luas
ares
sob
o
creme
pacífico
fim de tarde,
em julho
rodopiam mosquitões
cheiro abafado, corrosivo
de mato
fechado
é
umas alturas como
salpicam se te
no horizonte falassem:
dorme
chumbo
vermelho
o mal estar enorme das montanhas de minha terra
dorme
…
Da taumaturgia do vinho
I – FOLIA: VINHO TINTO
Fragrâncias de festas
em carnes gordurosas!
Sonho de suor aboletado
Cananéias intumescidas
sensualidade de estribilhos
marinhos! Oh impiedades
velozes
Amoníaco! Ísis! Ítis!
Por epitáfios de
anêmonas, riqueza de
androginias. Seminais
proto-cárceres. Toda
uma fauna de formigas
lactentes. Chupando
mamilos rijos
II – SAUDADE: VINHO BRANCO
Depois da insurreição
a quietude
armário rangendo
leve
opiáceo
Permeante a nova
atmosfera, o declive.
rolou toda
a areia.
caiu tudo
ar dançante
enumera os grãos de
ouro
que flutuam
Bem certo é que
estás
sozinho
III – CIRANDA: VINHO VERDE
Trancastes a chama
entre os quartos
inumeráveis
da mansão essencial
balbuciam contigo
alguns fantasmas
— mesmo eles duvidam
da vida
— duvidam
da morte, sobretudo
Lamentos,
de tigresas amargas
espalham-se
pelo chão
lá fora,
encontrarás a
identidade
completa
o sossego de mil mundos
encastela-se em ti
e tudo parece
lunar
IV – INFLEXÕES: O VINHO DOS SOLITÁRIOS
Tatear as duras
portadas da memória,
aflita entre veias e
sangue parado
e ainda demorar-se um
pouco na única
masturbação. Pois
esta é a morada. Esta.
Descer aos fundos, aos
féretros insondáveis.
Pulsas como um
coração arrancado
e não há lembrança
que te renegue. Um
simples desejo de
foder.
Nardos
U’a bela boca
de baton
obscuro
u’a bela boca.
adormeces.
e é o sono dos aflitos
…
O vinho dos amantes
Já te disse:
lambuza-te de
mel
e terás minha
atenção
e t’encontrava
nas plácidas
horas digestivas
(após o almoço)
Nada poderia
ferir mais que
a ponta dos joelhos
talvez, somente o
1º movimento
da sonata Kreutzer
e tu soavas
a cada gemido
as molas: piano
o gozo: violino