The sun goes blind
The sun goes blind against my hand,
I lay the blue surrender of a bay
Down the burning corner of my reach.
The clouds retard and turn and catch,
Their casuistries cannot detain
What monody I move them through.
I let one silent flank alone
Of grazing pine encroach upon
The helmed embankments of my air.
Nameless, some quick of yellow bird
Finds me too wide to thread to flight,
Too still from bough to fretful bough.
Earth presses me in cramped duress—;
It is too gross a weight to be
Withheld, to labor forth—
this
weight itself of weightlessness.
A cegueira do sol
A cegueira do sol contra minha mão,
na baía azul, no canto em chamas ao meu
alcance, eu deposito minha rendição.
As nuvens atrasam, rodopiam e se encontram,
Seus sofismas não conseguem deter
As monodias para onde as movo.
Deixo silencioso o solitário flanco
De pastagens e pinheiros que invadem
Os couraçados taludes de meu ar.
Anônimo, um ágil passarinho amarelo
Me acha muito grande para voar,
E muito lento para pular de galho em galho.
A terra me aperta numa estreita prisão —;
É peso demais para eu conseguir
Segurar, para que eu dê conta —
desse
peso, em si, leve.
…
Lightning another cigarette
Lightning another cigarette,
Passing the window, I see the axe,
Blade buried in a log in the wood pile,
The handle up to lay hold—
How long
Have I been counting whispers
Of trees of grasses of the wintry sea?
Acendendo mais um cigarro
Acendendo mais um cigarro,
Passo pela janela e vejo o machado,
A lâmina encravada num toco da lenha,
O cabo voltado para o alto —
Por quanto tempo
Tenho estado a contar os sussurros
Das árvores, da relva, do mar invernal?
…
Song for evening
The traveler in me is weary, who walks
the bridges of evening that span
no visible shores, toward the darkness
which beckons and forewarns.
My wanderer wends toward darkness
where the moonlit music of flutes
weaves a silver and velvet doublet
to shroud his widowed heart.
Weary though he be, and his heart grow
single with grief, I fear
he will not rest; the bridge thrusts
endlessly onward, the music lures.
Though he press onward, I shall abide,
let weather who will, or fall,
I have turned my heart toward silence
that binds and chastens like mail.
Canção da tarde
O viajante que sou, cansado, atravessa
as pontes do entardecer, cruzando
costas invisíveis, rumo à escuridão
que acena e adverte.
O andarilho caminha para a escuridão, lá
onde a música das flautas iluminadas pelo luar
tece um gibão de veludo e prata
para agasalhar seu coração viúvo.
Ainda que exausto, e que seu coração
exiba uma singular tristeza, eu temo
que não descansará; a ponte empurra-o
adiante, continuamente, e a música o seduz.
Embora ele siga em frente, eu devo ficar,
deixarei que e atmosfera triunfe, ou que fracasse.
Voltei meu coração em direção ao silêncio
que prende e castiga como uma carta.
…
Waters
Broad emptiness of waters watched
dull slant of light
the roused abeyances of earth
So Chinese paintings
not correcting the world
invoke world-absences
Importantly
because a breathing serves these pauses
as though we were alone
all birds south
our loyalties renewing.
Águas
Vastos vazios de águas vigiavam
a enfadonha inclinação da luz
da inatividade despertada pela terra
E as pinturas chinesas
sem corrigir o planeta
invocam planetárias ausências
Importante,
porque uma respiração serve a essas pausas
como se estivéssemos sós,
e todos os pássaros no sul
nossas lealdades se renovando.
…
True night
So it is midnight, and all
The angels of ordinary day gone,
The abiding absence between day and day
Come like true and only rain
Comes instant, eternal, again:
As though an air has opened without sound
In which all things are sanctified,
In which they are at prayer—
The drunken man in his stupor,
The madman’s lucid shrinking circle,
As though all things shone perfectly,
Perfected in self-discrepancy:
The widow wedded to her grief,
The hangman haloed in remorse—
I should nor rearrange a leaf,
No more than wish to lighten stones
Or still the sea where it still roars—
Here every grief requires its grief,
Here every longing thing is lit
Like darkness at an altar.
As long as truest night is long,
Let no discordant wing
Corrupt these sorrows into song.
A verdadeira noite
E então é meia-noite, já se foram
Todos os anjos de um dia qualquer,
O duradouro fosso entre dia e dia
Chega como verdade, e somente a chuva
Chega num instante, eterna, novamente:
Como se o ar se abrisse em silêncio
No qual todas as coisas são consagradas,
No qual estariam orando —
O bêbado em seu estupor,
O louco em seu diminuto círculo de lucidez,
Como se todas as coisas brilhassem perfeitamente,
Em autodiscrepância, aperfeiçoadas:
A viúva casada com seu luto,
O carrasco numa auréola de remorso —
Eu não deveria ajeitar nem uma folha,
Não mais que desejar clarear as pedras
Ou acalmar o mar onde ainda há rugidos —
Aqui cada dor requer sua dor,
Aqui cada objeto de desejo está aceso
Como a escuridão num altar.
Tanto quanto é longa a verdadeira noite,
Que não possa a asa dissonante
Corromper em canção esses lamentos.
…
Late night
Gracious this candid pair of eyes—
I stir my cup, and let
the grain lie liquid.
Outside, the steam that rises
from tracks the gravel cannot hold
has entered a shade of the light.
Light I remember seeing
at a dry enduring stairwell,
an abandoned flight of stairs.
Tarde da noite
Gracioso, este cândido par de olhos —
agito minha xícara, fazendo
os grãos se dissolverem.
Lá fora, o vapor que sobe
dos trilhos que o cascalho não segura
mergulha numa sombra da luz.
Luz que me lembro de ter visto
numa escada velha e ressecada,
um abandonado lance de escadas.