Poema de Ruy Espinheira Filho

Leia o poema "Soneto do quintal"
Ruy Espinheira Filho, autor de “Babilônia”
01/04/2001

Soneto do quintal
para Matilde e Mario,
em Monte Gordo, março de 91

Ao recordar a moça, eu me comparo
ao cão que vejo a interrogar a brisa.
O que é mal comparar: bem mais precisa
é a mensagem de odores que o faro

decifra. E então medito sobre o claro
ser desse cão, e invejo essa precisa
vocação de existir. E ausculto a brisa
e nada nela encontro. Nada. E paro

de lembrar e pensar. Há mais profícuas
ocupações. Exemplo: só olhando
estar. Cão. Nuvens. Ramos. E, dormindo,

um gato. E essas formigas — três — conspícuas,
vestidas a rigor, deliberando
em torno de uma flor de tamarindo.

Ruy Espinheira Filho

Nasceu em Salvador, em 1942. É poeta, ficcionista e ensaísta. Autor, entre outros, de Memória da chuvaElegia de agosto e O rio corre na Lua.

Rascunho