Poema de Ronaldo Machado

Leia o poema "Pampa de granito"
01/07/2004

Pampa de granito

I

Pampa é pedra.
Se escreve
com a agulha
do vento.

Pedra
onde dormem
a linha e a palavra.

Urdido nos grãos
de silêncio da
pedra,
o Pampa
palavra o poema
– mancha na página.

II

O Pampa se esparrama
sobre minha cidade.

Se esvai entre o rio e o mar,
lavando arrabaldes e casas
com seu grão duro.

Inútil, o rio se apressa em represa.

Ilhados, homens e animais e coisas
enregelam ossos.

Na minha rua,
um Velho alimenta seu cão
com restos de flores.
Se abriga em seu latido.

O cão é uma saudade de sol
É uma saudade estendida na praia.

Lento, sobre a praia doce,
o sol aquece a última rosa.

III

No Pampa gris
– deserto, de granito, frio –
o Velho sem barbas se ergue,
rijo, cerne de carne.

Com a agulha do vento,
o Velho greta o silêncio,
sulcando traços ao ocaso
– simétrico tabuleiro.

E na vastidão lavrada
uma diagonal irriga os canteiros
– quadriculares berços –
onde o Velho brota
rosas de alabastro.

Ronaldo Machado
Rascunho