Pampa de granito
I
Pampa é pedra.
Se escreve
com a agulha
do vento.
Pedra
onde dormem
a linha e a palavra.
Urdido nos grãos
de silêncio da
pedra,
o Pampa
palavra o poema
– mancha na página.
II
O Pampa se esparrama
sobre minha cidade.
Se esvai entre o rio e o mar,
lavando arrabaldes e casas
com seu grão duro.
Inútil, o rio se apressa em represa.
Ilhados, homens e animais e coisas
enregelam ossos.
Na minha rua,
um Velho alimenta seu cão
com restos de flores.
Se abriga em seu latido.
O cão é uma saudade de sol
É uma saudade estendida na praia.
Lento, sobre a praia doce,
o sol aquece a última rosa.
III
No Pampa gris
– deserto, de granito, frio –
o Velho sem barbas se ergue,
rijo, cerne de carne.
Com a agulha do vento,
o Velho greta o silêncio,
sulcando traços ao ocaso
– simétrico tabuleiro.
E na vastidão lavrada
uma diagonal irriga os canteiros
– quadriculares berços –
onde o Velho brota
rosas de alabastro.