O outro jogador
A última vez que os vi
Jogavam gamão sob a parreira do pátio:
Uma teia de folhas finas de onde brotavam
Uvas azedas, atrofiadas pelo calor úmido do equador.
Havia sombra no pátio,
E luz no olhar dos jogadores.
Lançavam dados como se lança ao acaso
A sorte do dia-a-dia: a sorte
De estar vivo e rir da vida
Antes que a outra sombra nos envolva.
O lance de dados era ruidoso
E os dois rostos serenos consumiam a tarde
Atraíam olhares e as mãos
Fechadas abertas selavam o destino de cada um.
Ali estão os dois homens: meu pai, meu avô.
Ambos de poucas palavras
E as palavras, escassas,
Faziam parte do jogo, quem sabe do destino.
O que diziam as mãos as palavras
O rosário de enigmas no domingo de duelo?
Os dois homens, concentrados na trama do jogo,
Talvez pensassem na vida.
Sabiam que o menino da platéia desconhecia
O jogo e a vida?
Não sei. Nunca saberei
Se no olhar que me lançavam,
Podiam imaginar o homem
Que escreveria estas palavras.