Fantasmas
Bobagem esperar outra coisa,
pois tudo deu no que deu.
Não sobrou uma migalha na mesa
quando o último convidado sumiu.
Mas esqueceram a lâmpada acesa,
algumas portas e janelas abertas.
Desfecho apressado de festa,
em casa, agora, abandonada.
Então, os fantasmas pularam das molduras
e cada qual reassumiu seu posto.
Vovó Marieta traz o pudim de leite.
Tia Celeste se espichou no terreiro,
e jaz, transfigurada pela luz da lua.
Vovô Nagib ameaça com a bengala,
atazanado com tamanha bizarria.
Donana e o eterno bordado
cheio de flores azuis e andorinhas.
Tio Vicenzo atravessa as paredes,
e bêbado, no terno lastimável,
aponta, rindo, para minha mãe,
dançando acima dos telhados,
com uma rosa negra na boca.
E dança de pés descalços,
como se ainda fosse criança.
Os mortos são malcomportados.
Bando de funâmbulos em fúria,
refazem o que foi minha família,
fadada ao desastre e à insânia.
Porque insano sempre fui.
E por não saber mendigar,
me reduziram à indigência das palavras,
onde me recolho com meus fantasmas.