Nada mais me comove ––––––
Nem o fogo na flecha. Nem, à lâmpada, insetos.
Nem o sangue no sabre. Nem plateia que aplaude.
Nem a treva (luz fecha). Nem lugares discretos.
Nem a cova (breu abre). Nem o logro da fraude.
Nem os duplos à proa. Nem a lua que míngua.
Nem fragmentos de Safo. Nem o corpo-suporte.
Nem a nota que soa. Nem as náuseas da língua.
Nem o grito que abafo. Nem o Noites do Norte.
Nada – a esteira de vime. Nada – as vacas profanas.
Nada – a prova dos nove. Nada – a névoa que chove.
Nada – a prova do crime. Nada – as cores cubanas.
Nada mais me comove. Nada mais me comove.
Não:
Nem a face na tela. Nem refúgios, naufrágios.
Nem a tela com tintas. Nem perfumes perfeitos.
Nem o canto acapella. Nem dezenas de adágios.
Nem famílias famintas. Nem seus jogos e jeitos.
Nem o novo sistema. Nem o vírus lá fora.
Nem a trama infinita. Nem o choro de um filho.
Nem a festa blasfema. Nem a longa demora.
Nem, à porta, a visita. Nem a voz de Virgílio.
Nada – o trem que é destroço. Nada – a voz de Mefisto.
Nada – o trem que se move. Nada – Laura de Noves.
Nada – o que foi, já, nosso. Nada – as chagas; e insisto:
Nada mais me comove.
nada mais me comove.