Poema de cabeça para baixo, Lautréamontiano

Leia o poema "Lautréamontiano"
Gabriel Nascente, autor de “Boa-noite, crepúsculo”
01/09/2003

Estou fechado para balanço.

Soturno, entre três turnos,
nada posso contra a luz.

Com nítidos sinais de fadiga
na alma.

Uma dose de nepente (e pronto):
a dor vai embora.

A existência fica, sazonada
em seus caminhos da noite.

Microcósmicas formigas
avançam na laranja.

O mal me apetece.
A vida é veneno.

O espelho é falso, e estilhaça
o desenho do meu vulto:
(eu, homo de humus, barro
e cuspe do cálice perpétuo).

Estou fechado para balanço.
A ferrugem devora o meu espírito.

Sou manual na minha tristeza
de amar a vida.

Um trem de ferro passa por cima
do meu coração. Ai, gelatina de
sangue!

As Eríneas me consolam.

Peço socorro à polícia (com seus
cacetes de abrir vergões no céu
dos meninos).

Meu pescoço voa. E leva a minha
cabeça
para os calabouços da Idade Média.

Uma escultura grega me abraça.
É tarde. Um punhal entenebrece
o que sobrou de mim.

Gabriel Nascente

É autor de O pão selvagem, Boa-noite, crepúsculo, entre outros.

Rascunho