Poema de Alcides Buss

Leia o poema "Que fosse um bolero"
Alcides Buss, autor de “A culpa está morta” Foto: Larissa Gandolfi
01/03/2006

Que fosse um bolero

Sozinho, você
não é ninguém.
Sozinha, uma catedral
não vale um vintém.

Você e sua amada
bem pouco são.
Para que a vida tenha graça
precisam de filhos
ou mesmo de sua falta.

Ainda assim, carecem
de pais, de avós, de irmãos,
de incontáveis parentes;
sem eles, vocês sucumbem
qual árvore sem chão.

A grande família, porém,
também fenece
em indomável vácuo
se não tem por perto
vizinhos que componham a vila,
o bairro,
a cidade.

E também a vila, o bairro, a cidade
precisam de outras vilas
e de outros bairros
e de outras cidades;
e que todos juntos
orquestrem a nação.

Oh, mas uma nação sozinha
é malmente um grão
ou nem isto:
uma estrada sem rumo,
um amor sem paixão.

Uma nação precisa
de outra nação, e de outras
e que todas se unam
num mosaico
que chamamos mundo.

Não basta, tampouco, alçar-se
ao espectro de mundo.
Necessita-se mais.

Necessita-se pelo menos crer
que outro mundo é possível.

Alcides Buss

É autor de mais de vinte livros de poesia, entre eles Janela para o mar (Caminho de Dentro Edições, 2012). Coordena o Círculo de Leitura de Florianópolis.

Rascunho