Que fosse um bolero
Sozinho, você
não é ninguém.
Sozinha, uma catedral
não vale um vintém.
Você e sua amada
bem pouco são.
Para que a vida tenha graça
precisam de filhos
ou mesmo de sua falta.
Ainda assim, carecem
de pais, de avós, de irmãos,
de incontáveis parentes;
sem eles, vocês sucumbem
qual árvore sem chão.
A grande família, porém,
também fenece
em indomável vácuo
se não tem por perto
vizinhos que componham a vila,
o bairro,
a cidade.
E também a vila, o bairro, a cidade
precisam de outras vilas
e de outros bairros
e de outras cidades;
e que todos juntos
orquestrem a nação.
Oh, mas uma nação sozinha
é malmente um grão
ou nem isto:
uma estrada sem rumo,
um amor sem paixão.
Uma nação precisa
de outra nação, e de outras
e que todas se unam
num mosaico
que chamamos mundo.
Não basta, tampouco, alçar-se
ao espectro de mundo.
Necessita-se mais.
Necessita-se pelo menos crer
que outro mundo é possível.