Sidarta Agostinho Newton
O que uma árvore não faz?
Campos de Pierre Rabhi
Pierre, o campo está cansado
Respira com dificuldade
Como quem empurra uma pedra colina acima
Pierre, no meio da traqueia a pedra estancou
Não sai com a enxada, tampouco com o trator
Ela agora é um morro
Logo na garganta o grito teimoso
Rompendo as cordas empacou
Pierre, o campo está em farrapos
Na camisa de força de glifosato
O espantalho enlouqueceu Pierre
Está desempregado
A prima Vera se atrasou, Pierre, passou
Estações inteiras com o polegar para cima
Mas ninguém lhe deu ouvidos nem carona
Então perdeu o trem, e a pé, cansou
Agora é só polegar pra baixo
Ontem um deserto bateu o recorde com máxima de sessenta graus
Superado hoje por um outro ostentando estátuas de sal
Polegar para baixo para o campo para nós
(O campo somos nós)
A natureza odeia a plantação
Ela aguarda para ter mando de campo
Que penetramos com nosso alterado grão
A semente, código genético com cadeado,
Algoritmo fadado a dar errado
Reflete o que somos o campo árido
Com o próprio pão ingratos
Se antigamente havia o culto
Um ritual de agradecimento
Hoje em dia há o glifosato
Em alquimia com o sol transformava em fruto
Extrai hoje a raiz do solo exausto que seiva bruta
No floema dos galhos secos já nada se mistura
Midas transmuta em pedra o vegetal
Crescerá devastando impérios seu amor mineral
Aceleradamente
Feito a pedra que rola morro abaixo
Agora podemos Pierre agora o grito sai
Quando sobre nós a pedra rola
Sobre o campo estanca
Aqui jaz o campo
A natureza passa
Seu amor vegetal irá aumentar
Mais vasto que impérios e mais devagar