Tradução: Ronaldo Cagiano
I
Andei pela nostalgia de casas
esquecidas
A tarde fugia em vermelha anunciação
havia rubor nos pátios e míticas figuras
no ar.
Os pássaros tinham as asas azuladas.
Cresciam espelhos com luas de outros
tempos e ruídos de porta
em um terreno baldio.
Na solidão das uvas
andei pela nostalgia de casas
esquecidas.
…
II
Um sol vermelho
nos inventa
nos devolve as formas
sob as pálpebras de um mar
de tatus perdidos
onde as feras vomitam
nuvens amarelas
Esse sol
que nos descobre
macho
fêmea
nos converte
terra
caminho
luta implacável
até agitar nossas mãos
como furiosos vulcões na noite
E somos deuses errantes
lobos assassinos
em busca do amor
…
III
Desde o umbral da terra
tentava beijá-la
Unia os medos
os emaranhados
as sombras que separam
as palavras
A noite era um feitiço
um espaço de céu
no inferno.
…
IV
Eles vêm cavalgando
postulam heranças
cheiram a porto e desembarque.
Uma velha escuta atentamente
as palavras do sacerdote
e prepara para a morte
não há pranto
inclina-se
lava sua boca com uma mistura
e cospe
gosto de sal é o sinal de outro batismo.
…
IV
creio
no amor
que tingiu de vermelho a estalactite
no sacerdote que vestiu
de angústia a tarde
na oferta dos corpos
na aranha que cruzou o desfiladeiro
na seca que aniquila
no chocalho dos fantasmas
nas ruínas de falso brilho e devaneios da alvorada
nos visionários da comarca que
morreram
de cócoras
agora
uma manada de vicunhas se prende
a uma saliência
e o ar santifica as alturas
e somos olhos
aroma de pele alheia
sumo de verão
algo mais que apagado
alumbramento