Maria

Conto de Walmor Santos
01/04/2003

(por uma reportagem na tevê
que me serviu maria à mesa).

o espirro. último. represado vômito do renegar-se à indignidade da vida.

deitada no banheiro da rodoviária: janela baça, paredes de caixão em cinza-sujo; teto a descer-lhe tampa de esquife; janela sem luz a acolchoar olhos secos; pés retalhados por pedras; corpo de rugas e cicatrizes.

ruído de televisor no saguão de espera; fio de luz a infiltrar-se no desacerto da porta. ardem-lhe as narinas aquela morrinha de urina, fezes e mofo. seu cheiro: pó, suor, chuva entranhada na pele, roupas empastadas de lama. o tempo fede: idade, marido, filhos, vila, salário.

regurgita o ressaibo da dupla ingestão: mata-rato e água sanitária. mão a apalpar o ventre em busca do esperado parir desse nunca mais sofrer… miséria…

miserere nobis.

amém.

estava de branco, lírios nas mãos. pensamentos no altar. seus doze anos marcavam-se no vestido justo. percebera o crescido do peito pelos olhares dos homens. mal suportava a lenta passagem do tempo, as ladainhas repetitivas e monótonas, o arrastar-se da missa, a longa pregação do frei: ventura e terror atrasando o instante em que, pela primeira vez, compartilharia da carne do senhor jesus: uma só carne, um só pão.

quando, enfim, sós com cristo panificado, entregou-se à esperança das eleitas: maria de nome igual à mãe de deus. tão fácil ser boa, santa. para ser feliz faltava pouco. bastava-lhe escorregar da igreja para os braços de um homem, afinal, esse, o destino das mulheres. pai e mãe, atravessando nus o corredor em busca de água, vinho daquela comunhão, inocularam na filha curiosa o desejo do cerimonial de carnes e palavras doces.

desamparada, ela permaneceria ainda alguns anos alimentando essa fome.

vira-o numa carroça. bradava a ladainha do abacaxi três por mil, a melancia a três, duas por cinco, a ráfia com laranja por quase nada, freguesa, e percebeu nele um príncipe com o poder de lhe aquecer o corpo com olhares; sorria como quem já lhe soubesse nome e apenas perguntasse a que horas ela estaria na pracinha da igreja.

na primeira vez, negara. na segunda, já chegara dominada pelo desejo. quando o beijo aconteceu, num misto de gana e nojo da saliva, o que sentiu foi queimor no peito que, desde então, no renovar do contato apagava-se para logo se reacender com maior intensidade. soube, desde então, que ele era o homem da sua vida, que com ele iria até o inferno.

o que deus uniu, que o homem não separe.

e precisaria o homem separar o que deus soldou na miséria? maria de abraços na cruz.

a marcha nupcial num disco arranhado irrompeu de graves e agudos e preencheu o corredor com expectativas sobre o caminho de peregrinação entre o céu e o inferno: o quanto este seria maior do que o outro, ela saberia depois. ao fim de tudo, as esperanças de que, sob as bênçãos desse deus, que fez um mundo de pecado, vícios e castigos, e um céu, onde o que era bom estava longe demais dos desvalidos, as coisas se encaminhassem para melhor.

o pai é misericórdia, ouviria do padre.

amém!

o rato roía o tempo, desfazendo a distância entre dentes e carnes ao rés do piso da rodoviária; roía nela o que ela nunca teve para ser roído.

removeu, do casebre onde fora morar, pó, teias de aranha, ninhos de pardais das telhas de amianto. removeu maricás deixando espinhos nas mãos, domou capim e plantou mudas para descinzentar o cotidiano. enfim, na parede da cozinha, a tabuleta do lar-doce-lar.

o marido estendeu-lhe braços. ela, exaurida ante o não-sei-o-que-fazer, suspirou o seja o que ele quiser. assim entregou-se ao irresistível, sentindo que a carne do seu corpo sabia da carne do corpo dele e ambos os corpos reconheciam palavras nunca pronunciadas. depois, entre grilos lá fora e roncos do marido ao lado, ela enlouquecia insone no sem-resposta do deus existe? e, se existe, por que não olha para eles?

acordadas, na primeira hora da manhã pelo rebuliço dos pais ao saírem para o trabalho, ficavam as crianças a passarinhar de pés descalços pela vila. nada adiantava ralhos, recomendações ou porradas. atrasada em tudo o que era relativo ao passado, ela saía apressada na busca do futuro, desesperando-se em preces de cuidados ao deus que sabia deles distraído.

a mãe, dócil e estúpida como galinha no pátio, ensinara-a a ser boa esposa: um lar, repetia como um estribilho caipira, é feito de um homem honrado, uma mulher humilde e dedicada, e filhos para a glória do senhor. ela perguntava e o que faço dos meus sonhos, mãe?

vai, anda… a pilha de roupa suja te espera… e vem chuva…

e nas linhas mal-riscadas no rosto da mãe, a filha lia os desencontros: felicidade não passara por ali.

engraçado, dá-se conta, não recorda da mãe sorrindo. lembra-se, sim, dos selos roxos pelas surras carimbados.

cerâmica de mijo e frio, cheiro de mijo e merda, carícia da laje dura e úmida, gozo da vida em dores de parto e veneno, esperança de nada existir para sempre, medo de errar de novo e ser condenada à vida eterna.

sobre ela, os olhos estúpidos do marcelinho, o riso satisfeito do marido, a boca raivosa da paulinha, a voz prometedora do filho que se fora, o rosto que se transformava, um por um, no rosto dos filhos mortos.

dentro dela, o ronco do estômago desencavando a morte e na cabeça o oco sentimento da bolsa vazia, panelas ocas. o que encontrasse nas prateleiras da memória alimentava essa digestão ácida.

pela manhã sempre a primeira em pé, como se não tivesse dormido: viúva de marido vivo. ele, casado com o jogo, com a bebida, com as mulheres; ela, galinha dispondo de um ovo para tanto pinto. um ovo que se repartia, que se multiplicava, que germinava? grávida outra vez!

e bateu, bateu, e adicionou açúcar, bateu, bateu e acrescentou farinha de mandioca até que o único ovo adquirisse viscosidade e volume e diminuísse a fome na tigela. uma xícara de café para cada um: ralo, ralo pra modo de render o pó, e, cada qual, garfava puxando o desespero da fome para fora de si.

ela fingia sorrir, enquanto desapressava o tempo para não perder o ônibus que encobriria o loteamento com seu lençol de pó, quatro vezes ao dia. se perdesse um, perderia o trabalho da jornada e o descanso remunerado e um pedaço de carne no domingo ao meio-dia e o encontro com o motorista da patroa. abrir pernas é fome que sempre teve.

foi acordada pelo discurso do boa-pinta: boa-noite, senhores passageiros, tenho mãe viúva e cega, dois filhos que choram de fome e uma mulher que me enche o saco por causa do desemprego, por isso, humildemente lhes peço uma abençoada e espontânea colaboração — e ele levantou os braços, a camisa floreada fora da calça deixou à mostra o revólver. e esclareceu, contundente: de todos, ninguém de fora!

o motorista ria, o cobrador foi recolhendo os trocados, algumas pessoas abriram bolsas: por favor, moço, não leva meus documentos.

só isso, senhora! que vergonha! recuso-me a aceitar tão pouco. procura mais, procura. se não meu coração sensível haverá de se ofender.

moço, tenho cinco filhos, um deles é deficiente, e isso é tudo o que recebi da semana. pelo amor da sua santa mãezinha, não faz isso comigo.

santa? a minha mãe era uma cadela e meu pai um escroque. chega de lero-lero, dona, vai jogando os trocos no meu chapéu. senta, dona, senta! e o cara foi tirando a arma da cintura: olha dona, não apronta, vai. facilita as coisas que será bem melhor para todos. deus há de lhe dar em dobro por sua boa vontade e sensatez.

ela ergueu-se e avançou a tapas, barrigadas, gritos, mordidas, cuspidas, palavrões e pisando no sapato branco do sujeito, com olhos do tamanho de ovos.

tiro para o alto, gritaria: filho de uma puta! o rapaz se vê, entre risos, empurrado porta a fora, maria em cima, descendo junto, batendo sempre, caindo dos degraus do ônibus, de cara no barro, sob os pés dele.

o motorista, rindo, fecha a porta; os passageiros aplaudem; o ônibus arranca, aos soluços, e acelera como se fugisse de balas perdidas.

maria chega em casa trazendo bifes arroxeados no rosto, nariz quebrado, e bolsa vazia. raiva-pedra entalada na garganta; ódio-fogo a queimar-lhe o resto da vontade de viver; promessa de só ir trabalhar com faca de ponta;

o choro tudo alivia e a tudo conforma. um miserável dia depois do outro.

louvado seja.

a noite, invariavelmente, ela recebia a visita dos demônios:

marcelinho estúpido é só gemido e choro. precisa de médico. nessas horas nem táxi. malditos e desgraçados são até o ventre aqueles que depredaram o orelhão. onde anda o filho-da-mãe do pai. certamente num bordel.

os outros cinco dormem. fome têm, sim. mas leite com açúcar engana estômagos. assim se vai encompridando a vida e adiando a morte.

e se marcelinho morresse? e se todos eles morressem?

pelo menos quem morre tem carne até para dar. e ela salivou.

maria e a sede do inferno.

não chora por não ter tempo, mas veio ao inferno com lágrimas abundantes. só e cheia de filhos que, em olhares secos, silenciosos, desconformes, lhe cobram outra forma de viver

a menina, outra maria, então, não renuncia à liberdade de ser e de agir. que é isso menina, põe tua cabeça no lugar. minha mãe já dizia…

mãe, cala a boca. não serei como tu…

filha, a vida tem suas vontades. que deus te perdoe e te proteja.

puta que pariu, mãe, tu não enxerga que ali fora tem coisa melhor?

merda pouca é bobagem. lá vem outro filho para dividir o nada. o diabo continua a esperar que cresçamos e multipliquemos a fome, a divisão do nada por muito menos. em algum lugar do nada, deus se ri.

a outra filha casou sem papel passado. sorria ao mostrar as mãos feridas no roubar tijolos para construir o barraco. ela disse para os dois: vocês ainda se metem numa enrascada. o genro respondeu: pior do que tá não fica. e maria, para encurtar perigo aos seus, foi roubar junto.

bem-aventurados os que roubam sem ser presos.

um rosto feio, magoado e sofrido, crescia na noite. talvez chorasse, chamando-a. angustiava-se na espera de ver marcelinho dormindo. sabia que ele dormira com fome. na sacola pesada ao braço trazia bananas, pão e leite. ao menos valera a faxina naquele escritório e a grana extra que recebera do porteiro por abrir as pernas. na semana anterior, foi o guarda da esquina.

o relâmpago aponta-lhe o caminho; o trovão provoca-lhe o baque.

valei-me, senhor, que és pai dos desafortunados; ora merda, para alguma coisa deves servir, porra.

marcelinho, desde a meningite, não serviu pra nada. coitado, não teve a sorte do irmão mais velho, que se foi num de repente. nem de joana, que morreria ao atravessar uma sinaleira: fome não passam.

o problema, agora, são os aluguéis atrasados?

que diferença faz ao pobre se deus existe ou não? aonde vou? para a paz. morrer não pode ser pior. (no banheiro dos homens, alguém puxa a descarga).

amém!

o morto que estava vivo apareceu emplastado de sangue. rasgado por faca.

bem feito, desgraçado, sempre te avisei

cala-te, bruaca.

que um dia ainda ficas por aí, num valo, sem nome nem família pra te enterrar. eu não chorarei por ti

mas não sabes como deixei a cara daquele filho da puta. perdeu, não quis pagar, levou. eu perco e pago. acho que apaguei o sujeito.

que volta mais duro do que saiu, não? e os filhos vão comer o quê?

a tua língua, bruxa, desgraçada.

depois, bem depois dos curativos que ela fazia entre palavrões e gemidos, deles: ele, por não ter o que dizer e pensando com raiva no outro; ela, por ódio da vida miserável e por pena do seu homem que não tinha jeito mesmo. deitam menosprezando a dor que ele pudesse sentir. os gemidos, então, se multiplicaram por dois, enquanto a noite reacendia suas vidas.

pai nosso onde estás tão sem graça que nos escondes a fartura vê se dá um jeito na tua vontade para nos livrar desse teu reino de miséria e põe um pão ao menos em cada dia que te perdoaremos por essa condição animal de resistência assim como perdôo o desgraçado que me emprenha todos os anos e diz que é a tua vontade pois onde muitos passam fome mais um se desespera.

que seria, senhor, da tua vontade, sem a tesão desse calhorda?

antes eu fosse amante do diabo, que ao menos dá prazer pra gente.

o que deus uniu…

ela e a miséria… ela e a desesperança…

restava com ela, apenas o desgraçado filho, vítima da meningite. agravado por outros males, ele dementava e ria um riso bobo e chorava um choro estúpido que só os completamente idiotas podiam rir. ela, compadecida, ria para ele com lágrimas e o olhava com desejos de assassina.

conformava-se: ao menos este não a trairia.

um dia, depois de abrir as pernas para o dono da quitanda, chegou em casa trazendo carne moída, macarrão e ovos: um banquete pro marcelinho que, estupidificado, ria naquele riso cruel, disforme. ela apenas olhou, com medo de vomitar. marcelinho arrotava. ela sorria com lágrimas. marcelinho sentiu sono. ela o agasalhou com o travesseiro sobre o rosto. marcelo e seus espasmos ante a única porta que o libertava da miséria. ela com a chave nas mãos, apertava…

todos os mortos compareceram. ela jurou que a vida nada valia. dos filhos vivos sabia notícia alguma.

recebeu visita de homem bonito. chegou com bons-dias e sorrisos e ordem judicial para despejo.

ela deixou, no quintal, fogo sobre cacarecos que não levaria com ela. ardeu em vontades de queimar casa e devolver cinzas. suas lágrimas, porém, apagaram incêndio que se alastrava sinistro dentro do peito.

és lixo e ao lixo retornarás…

mansa, mansa por viciada à dor, entregou-se ao arrasto de passos por calçadas irregulares. espetava os olhos numa porta de bar; incendiava-se de prazer ante qualquer mão estendida.

ruas nunca trilhadas.

ao passar em porta de igrejas, cuspia. depois, deslumbrada e triste, procurava na luz dos vitrais o crucificado: bem-aventurados os que sofrem… se ele é bendito por sofrer só três horas na cruz, ela receberia o quanto mais?

deus não lhe podia adiantar um vale?

chão, cheiro, mijo a escorrer entre pernas, sombra: nada incomodava.

veneno mesmo era o pensamento que escorria como menstruação; veneno fora sua placenta envolvendo filhos, a praga de vesti-los de carne, soprar-lhes vida, condená-los à merda, destiná-los a pasto de vermes.

veneno era a esperança.

passou a dormir em qualquer canto onde não fosse incomodada. um cão sem dono adotou-a como mãe. aceitou. estava viciada em dividir o nada. tinha um jeito de acarinhar para justificar a bolsa vazia. o cão, diferente dos filhos, não reclamava.

no princípio, vergonha por esmolar, pelos trajes sujos, depois puídos, depois trapos. olhos suplicantes aprenderam que pedir nada resolvia. era quando mirava o vazio que lhe estendiam as mãos com pacotes nos dedos.

que lhe importava se eram sobras. sobras fora o que sempre lhe faltara.

aos cinqüenta anos era uma velha de cem anos.

recolhida pelo ônibus da prefeitura, foi levada com sono para o albergue, entre desconhecidos, de olhares hostis, acuados. deram-lhe um prato de sopa rala, quente, uma cama, um cobertor. ela olhou para o fundo do alto de sombra: deus finalmente pusera olhos nela.

no meio da noite, acordada foi por gemidos e mãos frias. soube que tinha companhia no lastro. preferiu não abrir os olhos. abriu as pernas, a boca em beijos de baba e cheiro de podre, de cachaça. procurou a língua e descobriu a boca sem dentes; seus dedos tatearam a visita, atravessando furos de roupas, moedas nos bolsos, que ela recolheu em silenciosa prece. e entre as pernas dele encontrou carne flácida, enrugada, seca. seu próprio cheiro escondeu o cheiro do outro. teve que ajudar a penetrá-la com aquela coisa mole, pequena, vencida.

quando sentiu o calor renascendo em seu corpo, o homem, afogueado e quente, dela se soltou, descendo da cama, deixando-a incompleta, ansiada. desesperada, não; acostumara-se ao chicote.

nunca a ausência do falecido fora tão praguejada.

o fim do outono vestiu-a com dois vestidos, duas blusas, dois pares de meias e o mesmo chinelo gasto. alguém, numa sinaleira, estendeu-lhe um cobertor. recusou-se ao obrigado por medo de amaldiçoá-lo com suas bênçãos.

dormia nos degraus da igreja, com o velho crucifixo onde faltavam os braços do cristo. acocorada aos pés da santa, foi erguida por um padre que lhe disse cheio de carinho: irmãzinha, aqui na escadaria da casa de deus não se pode fazer isso, fica um cheiro forte, que incomoda aos fiéis.

o inverno vestiu-a com um suave desespero nos olhos e forte dor nos ossos. desculpava-se, quando a expulsavam de áreas cobertas, de jardins particulares — excelente lugar para morrer —, de debaixo dos carros de motor quente.

um dia, percebeu a cabina telefônica. porta aberta. dormiria sentada, o frio menos agressivo.

alguém necessitado dos fios da telecomunicação chamou a polícia, que chegou com gentilezas, educação, e lhe pediu que esperasse, que já lhe vinham buscar. ela precisava comer algo, ela precisava de uma cama aquecida. a senhora tem parentes? ela pedia desculpas e andava. e, depois, andando em círculos sem sair do lugar, como a vida fizera com ela, retornava para a cabina que a desvestia parcialmente do frio.

a morte não chegaria antes que a buscassem. não se acostumara a acreditar em sorte.

a cama de mijo e frio, o perfume de mijo e merda, a carícia da laje dura e úmida, o gozo da vida em dores de parto e veneno, a esperança de nada existir para sempre, um medo de errar de novo e ser condenada à vida eterna.

sobre ela, ela jurava que via num único rosto, os olhos estúpidos do marcelinho, o riso satisfeito do marido, a boca raivosa de paulinha, a voz prometedora do filho que se fora, o rosto de cada um dos filhos mortos.

dentro dela, o ronco do estômago desencavara a morte e, no coração, mais do que na cabeça, o definido sentimento do nada. tudo o que reviu já não lhe dizia nada, absolutamente nada.

oco do mundo.

a imprensa soube da mulher que dormia numa cabina telefônica. vieram com câmera, luzes (um crucifixo na mão: grava por este ângulo, isso comoverá os espectadores) entrevistas (e esse governo que se diz preocupado com o social não fez nada pela senhora?), compaixão (um país com tanta corrupção e criaturas humanas vivendo como animais: é a falência da sociedade liberal) e mostraram-na dormindo sentada (sorria, vovó; ou melhor, chore um pouco), e ela impassível, enigmática. e eles, os jovens bonitos com seus apetrechos e alegrias da matéria que, talvez, lhes rendesse um prêmio, encabularam, sorriram à marcelinho e logo se foram com imagens, manchetes e pressa: precisavam editar a matéria.

para ela, engaiolada, deixaram apenas o aviso: vai ao ar, hoje, ao meio-dia.

Walmor Santos

É escritor, poeta e editor da WS. É autor dos livros O paraíso é no céu da sua boca, Coração passarinho, Aqueles que iriam morrer e Arte de enganar o medo, entre outros.

Rascunho