Invariante caminho
é luz de cor relutante
a pouca luz do caminho
passado pé retirante
futuro magro, mesquinho
palma do pé encardida
sola que fratura espinho
pele-sola ressequida
ressecada como a vida
destino… pedra-lajedo
tem a morte por medida
cantiga de um só enredo
fio de faca benzida
tinindo o gume no dedo
para a batalha renhida
mil segredos… um segredo
parca luz singrando o medo
Na aldeia de Efiam
na minha aldeia o vento vem vindo em vertigem
valseando varrendo várzeas varais…
vozes
de velhos vultos aluados… viajantes
na minha aldeia o vento vem…
pernoita infinitos
não volta nem segue
descansa na eternidade da aldeia
e fica a contar histórias antigas, bem antigas
das primeiras auroras dos tempos
e dos mais sensatos sagrados segredos
guardados nas pupilas dos verbos mais amáveis
sussurrados por gestos apenas…
os sussurros mais misteriosos
… enigmáticos possíveis e sonhados
sei que a sua aldeia, Efiam, é igualzinha a minha
porque a eternidade é única em sapiência e sentidos
e seus rabiscos de olhos
possuem a mesma refinada essência
a minha aldeia, a sua aldeia… aldeias infindas
indecifráveis… a minha aldeia, a sua aldeia, Efiam
Polén eremita azul
chegou risonha primavera azul
ninando ao colo um pólen-luz bendito
suave pólen que tem sabor de mito:
— primaveras remotas de Bennu!
As flores mais sublimes que o Egito
cultivara no Nilo… nobre Aur
mesmo aroma das rotas de Istambul
raro pólen ninado ao som de um rito
pelos desertos: oásis e areias…
pulsantes, velho rio, suas veias
2
serenam primaveras… Nilo Azul
milênios de mistérios, sim, Bennu
rebuscando memórias, flor-bendita
no rastro desse pólen eremita
contempla-se o sagrado Sol de Ur…
rastro-tempo que o tempo ressuscita