como um eco dos porões do navio
estão a dar com pau
por onde quer que eu passe
o mundo parece meio esclarecido
— mercado negro
— magia negra
— buraco negro
— ovelha negra
— mas que negro bonito
da cor do pecado
de traços finos
alguém disse de peito cheio
como se fosse elogio
— me respeita que eu não sou tuas nega
— seu nego safado
e se à vista não parece claro
decerto foi denegrido
como um pente desses de dente fino
que não passa
na carapinha
no mafuá
na piaçava
quando a coisa fica preta
arma branca não mata
cuidado com a lista negra
inveja branca tá liberada
se algo for proibido
carta branca é autorizada
se houver confusão
bandeira branca amor
a paz é instaurada
eu é que sou a mulata
filha de meia tigela
sem eira nem beira
nasci com um pé na cozinha
e o samba do criolo doido nas pernas
…..
invisível como deus
ou um planeta órfão
como um copo esquecido
ao lado do sofá
cheio de formigas
como lixeira de banheiro
que transborda
alumínio de fogão
velho na cozinha
como a vó que sofre
de uma doença rara
e se amontoa
como roupas sujas
pilhas de prato
quem sabe até aquele garfo
que se escondeu debaixo do armário
atrás da geladeira
madeira podre
escorada no asfalto
chave que ninguém viu
Invisível como o amor
a fé e a salvação
como a morte
um pensamento
ou a raiva de Medeia por Jasão
que não era lá tão invisível
invisível como esse poema
ou vista como exceção