Poemas de Joan Vincent Murray

Leia os poemas traduzidos "Sem título", "O construtor", "Poema", "Sem título", "Os exilados" e "Sem título"
Joan Vincent Murray, poeta norte-americana
31/07/2018

Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

Untitled

If, here in the city, lights glare from various source,
Look out of your window, thin faced man.
Three portent cities repeat the pattern and the course
That history ran.

Three slender veins, clotted and ambiguous,
Are these inlocked hands.
Three startled cries now rise incredulous,
Where once sprang barren sands.

Give back height to
receding sky.
Let stars — the things that remain —
Orbit their quiet to the lie
That is here city and various city pain.

Sem título

Se, aqui na cidade, as luzes brilham de muitos cantos,
Olhe para fora da janela, homem de rosto delgado.
Três portentosas cidades repetem o padrão e o rumo
Vividos pela história.

Três veias finas, coaguladas e ambíguas,
São estas desaferrolhadas mãos.
Três lamentos assustados se elevam agora, incrédulos,
Onde outrora se espalhavam dunas estéreis.

Devolva a altura ao céu que encolhe
Deixe que as estrelas — elas são o que resta —
Orbitem seu silêncio rumo ao lugar
Que é aqui a cidade, e as várias dores da cidade.

…..

The builder

1.
It is the action of the water that is the nearest thing to man.
That is what the young of the people cried, lifting their
Heads from the work they had turned to with indolence.

2.
“Crack at that pile, young fellow,” went up the sullen cry.
“No time to stop in the work and the job only time to breathe
And breathin’ your own fine sweat, for the air’s too good
For a world to stop us for, us for, us for!”

3.
High scuttle of dying leaves in fall like a dab and a stain
And the colour to words that are dreamed in the head.
Spring prancing up like a dainty colt
Picking the place for its feet, and lilies work up from its
Feet.

4.
O I want to wander over the hills and down to the water
And if there is sea I want to pack it up to my arms
And let the blue globe of all that water fill in my mouth
Rill up my head, my chest, burst out of the sullen seed of my loin.

5.
Crack at that pile, young fellow, went up the sullen cry
We’re making towers of Babel, that babble and Babel
We’re building towers of Babel that will crumble down before dawn.

O construtor

1.
É a ação da água a coisa mais próxima do homem.
É isso que os jovens entre as pessoas apregoavam, erguendo suas
Cabeças do trabalho, ao qual se voltavam com indolência.

2.
“Rache logo aquela pilha, meu rapaz,” ecoou o grito mal-humorado.
“Não há tempo pra interromper o trabalho e no serviço é só respirar
E respire seu delicioso suor, porque o ar é bom demais,
Nesse mundo, pra nos fazer parar, fazer, fazer!”

3.
Sentinelas de folhas outonais morrendo como uma ninharia e uma mancha
E as cores para as palavras que são sonhadas na mente.
Primavera que vem empinando como um delicado potro
Tomando para seus pés o lugar, e as flores que se erguem de seus
Pés.

4.
Oh, eu quero vagar, subindo as colinas, descendo até a água
E se houver um mar, quero pegá-lo em meus braços
E deixar que o globo azul de toda aquela água inunde minha boca
Riacho em minha cabeça e meu peito, explodindo a semente sombria de meu quadril.

5.
Rache logo aquela pilha, meu rapaz, ecoou o grito mal-humorado
Estamos construindo torres de Babel, aquele balbucio e Babel
Estamos construindo torres de Babel, que ruirão antes da aurora.

…..

Poem

Three mountains high,
O you are a deep and marvelous blue.
It was with my palms
That I rounded out your slopes;
There was an easy calmness,
An irrelevant ease that touched me
And I stretched my arms and smoothed
Three mountains high.

Poema

Alto como três montanhas,
Oh, você é um profundo e maravilhoso azul.
Foi com minhas palmas
Que dei a volta em suas encostas;
Havia uma tranquila serenidade,
Uma tranquilidade irrelevante que me tocou
E estendi meus braços e acariciei
Alto como três montanhas.

…..

Untitled

Willow do not always weep delicately
By the hill slope I and three willows
Neither gazed at the reflection of our pale complexions
Nor tangled the sheaves of silver green forefingers
That made up the space between
The crisp dulled cloth and hair
Willows sometimes fling with splendid disarray
The melancholy chastity to the winds and the
Sky
As if

Sem título

O salgueiro chora, nem sempre delicadamente
Na borda da colina, eu e três salgueiros
Nenhum contemplando o reflexo de nossa pálida aparência
Nem embaralhou os feixes dos dedos verde-prateados
Que compõem o espaço que há entre
A roupa e os cabelos, rijos e quebradiços
Salgueiros às vezes lançam, em esplêndida desordem,
Aos ventos, a melancólica castidade, e o
Céu
Como se

…..

The exiles

The day we stood as people stand
Looking out towards the land,
We were lovers of things beyond our bodies.

We were grave women, simple men;
With less than a turn we knew it then: —
A place, a land, a cliff as silver as bitten sea.

Without a stir we straddled our minds
Into remembered outer rinds —
River and height and the outflanked shore.

The long keen stride on the plow churned earth
Meant with the pain the full year’s birth;
While seasons like boys spat seed against our knees.

Os exilados

No dia em que ficamos como as pessoas ficam
Com os olhos voltados para a terra,
Éramos amantes das coisas que estão além de nossos corpos.

Éramos mulheres sérias, homens simples;
Em menos de uma viragem nós já sabíamos: —
Um lugar, uma terra, um penhasco prateado como mar crispado.

Sem nos agitarmos cavalgamos nossas mentes
Para crostas das quais nos lembrávamos —
Rio e alturas nas rebarbas do litoral.

O passo longo e agudo do arado revolveu a terra
Trazendo, com a dor, o nascimento de um ano inteiro;
Enquanto as estações do ano, como garotos, cuspiam sementes em nossos joelhos.

…..

Untitled

Through doors and windows
Shadows drift in early spring
Even the spilt wine of the weight
Is like the shadow of the hurried yesterday
Clear cut green leafed trees
Echo their quietness in their dusk
Leaping again to a quickened life
That comes with the wind
To muffle out as quickly as it came

Sem título

Através de portas e janelas
Sombras flutuam no começo da primavera
Mesmo o vinho, que a fadiga derramou,
Se parece com a sombra de um agitado ontem
Árvores límpidas de folhas verdejantes
Ecoam o silêncio em seu crepúsculo
Saltando de novo para a vida agitada
Que chega com o vento
Que tão logo chega as agasalha

Joan Murray (Londres, 1917 – Nova York, 1942) 
Passou feito um meteoro pela cena poética norte-americana. Jovem admirada por W. H. Auden, publicou pouco e, mesmo assim, influenciou poetas do calibre de John Ashbery. Com saúde frágil desde criança, Murray morreu em decorrência de problemas cardíacos a um mês de completar 25 anos. A paisagem das montanhas de Vermont, por onde adorava caminhar, é marca frequente em sua obra. Joan Murray andava meio esquecida, mas uma edição recente de seus poemas completos (incluindo fragmentos e rascunhos) pela New York Review of Books (2017) tem permitido o reexame de uma obra que, ainda que pouco extensa, é nada menos que excepcional.
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho