Inveja

Conto de Nelson de Oliveira
01/10/2000

O Escritor Que Não Tinha Boas Idéias morria de inveja do Escritor Que Tinha Boas Idéias. O Escritor Que Não Tinha Boas Idéias morria de inveja do Escritor Que Tinha Boas Idéias porque ele, Escritor Que Tinha Boas Idéias, tinha boas idéias o tempo todo. O Escritor Que Não Tinha Boas Idéias morria de inveja do Escritor Que Tinha Boas Idéias porque as idéias dele, Escritor Que Tinha Boas Idéias, eram muito apreciadas pelos críticos literários, que, ao contrário, não apreciavam nem um pouco as idéias do Escritor Que Não Tinha Boas Idéias. O Escritor Que Não Tinha Boas Idéias não fazia sexo com regularidade. Por isso ele, Escritor Que Não Tinha Boas Idéias, morria de inveja do Escritor Que Tinha Boas Idéias, que, por ter boas idéias, todas muito apreciadas pelos críticos literários, tinha toda a pinta de que fazia sexo o tempo todo.

O Escritor Que Não Tinha Boas Idéias leu, na coluna do Crítico Literário Do Jornal Do Momento, que o Escritor Que Tinha Boas Idéias tinha boas idéias o tempo todo, e morreu de dor-de-cotovelo porque ele, Escritor Que Não Tinha Boas Idéias, apesar de se esforçar, não tinha boas idéias nunca, nem recebia atenções do Crítico Literário Do Jornal Do Momento nem dos demais críticos literários. O Crítico Literário Do Jornal Do Momento sempre dizia aos colegas detestar as idéias dele, Escritor Que Não Tinha Boas Idéias, por não serem nem um pouco parecidas com as idéias do Escritor Que Tinha Boas Idéias, que, diga-se de passagem, além de ter toda a pinta de que fazia sexo o tempo todo, também tinha boas idéias o tempo todo. O Crítico Literário Do Jornal Do Momento também tinha lá as suas idéias. Mas O Crítico Literário Do Jornal Do Momento não morria de inveja do Escritor Que Tinha Boas Idéias, porque achava que as idéias do Escritor Que Tinha Boas Idéias, apesar de serem muito boas, não eram tão boas quanto as dele, Crítico Literário Do Jornal Do Momento, caso contrário ele, Crítico Literário Do Jornal Do Momento, não teria dito em sua coluna que o Escritor Que Tinha Boas Idéias tinha boas idéias o tempo todo. O Crítico Literário Do Jornal Do Momento tinha toda a pinta de que fazia sexo o tempo todo. O Crítico Literário Do Jornal Do Momento tinha toda a pinta de que fazia sexo com a Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento.

A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento também achava que o Escritor Que Tinha Boas Idéias tinha boas idéias o tempo todo. A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento também achava que o Escritor Que Tinha Boas Idéias, além de ter boas idéias o tempo todo, tinha toda a pinta de que fazia sexo o tempo todo. A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento achava que as idéias dele, Crítico Literário Do Jornal Do Momento, apesar de serem muito boas não eram tão boas quanto as do Escritor Que Tinha Boas Idéias. A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Diretor De Redação Do Jornal Do Momento, amiga íntima da Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento, também achava que as idéias dele, Crítico Literário Do Jornal Do Momento, apesar de serem muito boas não eram tão boas quanto as do Escritor Que Tinha Boas Idéias. A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento morria de inveja da Diretora De Marketing Da Editora Do Momento. A Diretora De Marketing Da Editora Do Momento era a diretora de marketing da editora que publicava os livros do Escritor Que Tinha Boas Idéias. A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento morria de inveja da Diretora De Marketing Da Editora Do Momento porque ela, Diretora De Marketing Da Editora Do Momento, tinha toda a pinta de que fazia sexo o tempo todo com o Escritor Que Tinha Boas Idéias. A Estagiária Loura, Bronzeada Pelo Sol, Do Crítico Literário Do Jornal Do Momento nem em um milhão de anos iria querer fazer sexo com o Escritor Que Não Tinha Boas Idéias.

Nelson de Oliveira

É ficcionista e crítico literário. É autor de Poeira: demônios e maldições e Ódio sustenido, entre outros.

Rascunho