Tradução e seleção: André Caramuru Aubert
Monstrous angelic
dawn dissolves into rocks, veins
of wheat. while the dream
still juts,
effuses a monstrous softness that
crawls in the wind with its
white scratches.
Monstruosamente angelical
a aurora se dissolve em rochas, veias
de trigo. enquanto o sonho
ainda perdura,
esbanja uma suavidade monstruosa que
rasteja ao vento com seus
arranhões brancos.
…
Dominion
not light.
not even the seeds of light. but its black humus,
its dampness dreaming through the flesh,
the breath still, its shimmering globe still
wordless, imminent: an opal
of trolling falcons!
Domínio
não a luz.
nem mesmo as sementes da luz. e sim seu húmus negro,
sua umidade sonhando através da carne,
a respiração parada, seu globo cintilante ainda
mudo, iminente: uma opala
de falcões cantarolando!
…
Pastorale
was autumn
in its bled metals. who,
again, was with you,
was the clear wound you moved through, the
lens of the meadows the last bees seeded…
Pastoral
era outono
em seus metais sangrando. que,
de novo, estava com você,
era a clara ferida você passou pelas
lentes dos prados que as últimas abelhas semearam…
…
Preface
might have ended here, at the
very outset, fruit
bobbing white
be-
fore your very
eyes, the clouds, the
fat
skeins of the prophetic, yet
un-
scrolled.
Prefácio
poderia ter acabado aqui, bem
no começo, fruta
balançando branca
di-
ante de seus próprios
olhos, as nuvens, as
gordas
meadas do profético, ainda por
de-
senrolar.
…
What the music wants
in Memory of George Oppen
what the music
wants is
pod and tentacle (the thing
wiggling,
wild
as washed
hair, spread). is our-
selves, in-
serted. within
our
own rhythms: wrapt, voluted,
that miracle
of
measure-
ascendent. to
stand, that there’s some-
where to
stand. marble
over
moorings, the
scaffolds, now, as if
vanished, and the steps, the
floors: spoken
forth. to
stand, stand there, with-
in
sound alone,
that
miracle!
is what the
waters comb, and the
bells,
beating,
count (faint, now, over the
waves, in a
garland
of
bells). is
somewhere, and
wrapt
in the bulb
of its
voices, are buoyant, among.
O que a música quer
em Memória de George Oppen
o que a música
quer é
vagem e tentáculo (aquilo
balançando,
selvagem
como cabelo
solto, enxaguado). somos nós mes-
mos, in-
seridos. dentro
dos nossos
próprios ritmos: embrulhados, retorcidos,
aquele milagre
de
medida-
ascendente. para
ficar, de que há al-
gum lugar para
ficar. mármore
sobre
amarras, os
patíbulos, agora, como que
desaparecidos, e os degraus, e
os pisos: falados
na frente. para
ficar, ficar ali, den-
tro
do som somente,
aquele
milagre!
é o que as
águas alisam, e os
sinos,
batendo,
contam (desfalecem, agora, sobre as
ondas, numa
coroa
de
sinos). está
nalgum lugar, e
embrulhada
no bulbo
de suas
vozes, flutuam, dentre.