Poemas de Guilherme E. Meyer

Leia os poemas "sem titulo"
02/05/2017

mais um incêndio em abrigo de refugiados.

em frente ao prédio incinerado
um cartaz num poste de luz: “alemanha para alemães”

“os lobos estão de volta”
os lobos nunca foram embora.

“por uma alemanha mais forte”
“por uma alemanha mais segura”

“contra a guerra”
“contra o capitalismo”

“há vida (boa) depois do capitalismo?”
há vida (boa) durante o capitalismo?

“operários de fábrica de chips
afetados por substâncias químicas”

“87 mortos”
“mais de 200 casos de doenças”

ex-operária que sobreviveu a câncer de mama diz
que pra empresa

“dinheiro é tudo”
“pessoas são copos descartáveis”

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tempos de moscas por todo lado.
de propaganda política.
de pessoas com medo umas das outras.

de pessoas cada vez mais dispostas
a se entregar de corpo e alma
a qualquer promessa de alívio
a qualquer promessa de um pouco menos

solidão. tempos de recessão e desemprego.
de ricos cada vez mais ricos.
de presídios cada vez mais lotados.
de descontentamento.

de pessoas doentes de tanto ter nada
e doentes de tanto ter tudo.
de velhos vendendo rosas em ônibus.
de não guardar te amos.

tempos de moscas por todo lado.
de pouco uso pra poesia.
de pessoas revirando lixo atrás de janta.
de cirurgias estéticas.

Guilherme E. Meyer

Nasceu em 1987, em Cuiabá (MT) e cresceu em Porto Alegre (RS). Formou-se em English and American Studies pela Universidade de Tübingen, na Alemanha, e atualmente faz mestrado em North American Studies pela Universidade Livre de Berlim.

Rascunho