Poemas de Fabián Vique

Leia os poemas traduzidos "Um porco em alto-mar", "Elogio do presente", "O vigor do olhar", "O outro Guiness", "Otto Rino" e "Esdrúxula"
01/06/2010

Tradução: Ronaldo Cagiano

Um porco em alto-mar

Há um porco em alto-mar
que gosta de navegar
flutuar
ir
assim
à deriva
com uma maçã na mente
sonhando com uma relva
onde corre sem ataduras

o único problema é
seu coração
porque é de margarina
e se derrete
com o calor.

Elogio do presente

Está bem:
Os assentos dos novos ônibus são
mais incômodos
menos fofos
(quase nada macios)
mas têm proteções de plástico
enormes
de um cinza bem escuro
muito intenso
e lisos
excelentes para escrever-lhes poemas
com liquid paper.

O vigor do olhar

De tanto olhar-me
o umbigo
saiu-me um olho que me vê.
Agora que somos dois
não podem acusar-me de egocentrismo.

 

O outro Guiness

Quando se sabe sobre o final
a lombriga incandescente de Paranacito
empreende o caminho até o centro da Terra.
O fim
lhe chega muito antes
porque o itinerário é longo
e afinal o solo vai se apresentando
cada vez mais duro.
Mas seria canalhice medir só
o resultado e não considerar
a intenção.

Otto Rino

Sonhou com música.
Despertou-se com uma cama
cheia de orelhas.
Colocou-as todas.
Não escuta melhor,
mas está muito mais lindo.

Esdrúxula

Entrou em minha vida
como uma rajada.
Atou-me à sua alma
como um aracnídeo.
Foi-se em uma tarde
com o crepúsculo.

Fabián Vique
Nasceu em Buenos Aires, em 1966. É professor de língua e literatura. Autor de Minicuentos (1994), Con las palabras contadas (2003), La vida misma y otras minificciones (2007) e Variaciones sobre el sueño de Chiang Tzu (2009).
Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

Rascunho