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na universidade
ninguém na universidade
dar-lhe-ia abrigo
o curriculum
não lhe abriria o portão
nenhuma chave se moveria
ao que busca escancarar
a cela do futuro
ali penetrará
quem dominar ofícios
graduar pontuações
estilhaços do cristal da vida
aludiriam ao haxixe às 7 da noite
num pequeno quarto
no centro de Marselha
pensamentos suspensos em brinquedos
os choques das multidões
lidos como formas preponderantes das sensações
e a denúncia de bienais exposições
louvores à mercadoria fetiche
perguntariam com que passaporte
preencheria o questionário
de algum departamento
o código para desmontar
a astronomia dos livros
lançados pelos bulevares de Paris
que reitor se sublevaria
contra os anátemas de frankfurt
sem guerra ou o trovejar
de trombetas messiânicas
nenhum narrador
desfolharia sua história
mesmo se encontrasse no caminho
um monte de pedras de um cemitério
na fronteira de espanha
ou o anjo de paul klee
a anunciar a ventania do progresso
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na política
nenhum partido
defloraria sua ficha de inscrição
nunca seria o anão enfurnado
na jaula dos espelhos
a manipular no jogo de xadrez
a alquimia da trapaça
a imagem autêntica do passado
é um raio
diz
e a verdade imóvel não traduz
a matéria da história
daí o quarto de uma só janela
os dias corroídos
pelo sal de ibiza
a fuga pelas escarpas dos pirineus
a tempestade a afugentar os anjos
e a lançar seus escombros
sobre a caligrafia
do último justo
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no supermercado
somente ele
enxergaria as formas do humano
detrás das prateleiras
dos supermercados
ou descobriria
no diálogo das mercadorias
a mímica das massas
entre passantes
somente ele
seria capaz de ouvir
sinfonias de goethe
aprisionadas nos códigos de barras
ou as estrofes de mahler
nos pregões
do vendedor de pipocas
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no apartamento
ninguém lhe daria guarida
no estojo onde se desfiam
as ilusões técnicas
dos múltiplos perfis do homem
nenhum engenheiro perceberia
a equação do desmoronamento
no núcleo abissal dos edifícios
apenas ele ouviria de noite
o rio a soluçar baixinho
sob o travesseiro
e na mais alta copa da cidade
haveria de sonhar
enormes formigas
a mastigarem
as folhas do desterro
5
no cinema
ninguém lhe convidaria
ao cinema
através das escuras lentes
avistaria os artefatos técnicos
concebidos para destruir
os desígnios da aura
então deixaria o escuro
da sala de projeção
pequenas mãos a ajeitarem
o óculos de míope
embaçado pelo ar-condicionado
a sensação
de nunca ter sido capaz
de recompor a cabeça
da vitória de samotrácia
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na varanda
somente ele
enxergaria a cidade
despontar
como um campo minado
numa apoteose de foguetes
a ameaçarem
o céu
oh
ele diz
aqui neste chão discursou um pássaro
havia uma muralha a proteger
a comunhão dos santos
e eis que do outro lado das vitrines
ninguém conseguirá resgatar
o objeto da salvação
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no parque
ninguém sentaria ao seu lado
num banco de jardim
para observar o bem-te-vi
atacar o gavião
e descobrir
no esvoaçar dos pássaros
o segredo da
luta de classes
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na escola
ninguém o chamaria de mestre
com seu paletó puído
e o caminhar do errante
sentaria no último banco
um logotipo de fogo luziria na sala
crianças manipulariam
teclados de tabuletas
onde letras se desmontam
no abismo das apóstrofes
e peixes destilam anúncios
do último aplicativo eletrônico
aqui ninguém estaria a salvo
pensa
nenhuma cartilha
desarticularia
a vértebra dos dias
nenhum link
desdobraria
o auriflama das idéias
onde se refugia
o soluçar do nome
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na livraria
ninguém entraria
numa livraria
para interpretar desenhos de capas
o evoluir das mãos no ventre dos livros
veria cadeiras no teto
de onde pende o fio
a comandar a vida dos bonecos
indagaria sobre a saúde mental
das estantes
a fluidez dos signos
sobre o minúsculo lago eletrônico
perguntaria em que colina
se perdera o narrador
sentaria numa poltrona
e passearia os dedos
entre histórias em quadrinhos
a aguardar o toque de finados
da igreja da Madre de Deus
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sob a marquise
ninguém se deitaria à noite
sob a marquise
para ouvi-lo contemplar
o outro lado das constelações
apenas três crianças
a cheirar cola
se aproximariam para perguntar
que deserto existe
além do mais alto céu
a resposta seria sufocada
por gritos
urros
latidos de cachorros
posto contra o muro
arrancar-lhe-iam
lápis e os coloridos cadernos
de anotações
nos anúncios das avenidas
vislumbraria uma cruz
a atravessar um horizonte de bêbados
e em meio ao cheiro de vômito e urina
descobriria que restara
no bolso do casaco
vinte gramas de cianureto de potássio