Emolumentos

Conto inédito de Marcos Alvito
02/07/2014

Foi lindo pra cacete. De óbito, de casamento, escritura, divórcio, testamento, partilha, inventário, a porra toda voando pelos ares. Cadê dona Maria Alzira, brasileira, natural de Montes Claros, Minas Gerais, casada em 1943 com seu Afrânio natural desta mui leal e heroica cidade de São Sebastião? Sumiu. Cadê o menino Uélinton nascido no Morro dos Cabritos em 13 de janeiro de 2002? Sumiu. Cadê a hipoteca do apartamento sito à rua Marquês de Olinda número 24? Explodiu. Ou melhor, eu explodi. Adeus emolumentos, adeus selo da corregedoria, adeus tabela de serviços. A documentação necessária para… Foi embora também. O referido é verdade e dou fé. Nem é preciso esperar cinco dias úteis. É pra já, não tá mais na folha 146 do livro BB-003. Não é mais necessário certificar. Nem reconhecer firma. A Corregedoria Geral da Justiça que se foda, vai fazer o que agora? Tá tudo transitado e julgado. Eta fumaça bonita de se ver. Não tá mais inciso no Código Civil, em nenhum artigo, alínea, parágrafo o escambau. Quero ver despacho mais bonito que esse. Sem estar juramentado nem autorizado. Terrorista? De qual circunscrição?

Marcos Alvito

Professor alforriado da universidade, dedica-se a oferecer cursos livres de literatura e ao Urucuia, podcast voltado para ajudar a ler Grande sertão: veredas, sua paixão maior.

Rascunho