De como dois profissionais não podem se amar

Conto de Whisner Fraga
01/07/2001

Quero dizer: lhe. Que partindo: estou. De brincadeiras: chega. De joguinhos: basta. Que somos: fomos: nada. A isso ser. Acostumamo-nos. Rapidinha: nenhuma. Mais nunca. Quarto seu inteira noite? Não. Fora lá: nada: somos. Na jaula macacos. Respeito: desejo. Você: oposto. Carinho: basta: lhe. Do picadeiro longe: ficaremos. Das arremessadas gorjetas. Dos prostitutos gorjeios. Macerados sexos. Puto, puta. Mais não posso. Caminho adiante: não há. Saída, encruzilhada, nada. Assim ser: deve. Meu vagabundo sêmen: da ruína do seu gozo privado. Da solidão. Do interdito: encaixe. Holofote-lua trevas rasgando. Outro: procure. O show prosseguir deve. A masturbação, a felação, a incompreensão. Viagra nem. Mastro recolhido: ausência de bandeira. Problema resolver como? Impotente estou.

O grito extravasa-se da boca escorrendo pelo coito teatral, pela sensação de última vez diante dos olhares expectáveis, bocas borradas, enquanto o jato de luz engole o palco lambendo as carnes erigidas pelo minuto de glória (o sexo é apenas isso) e dinheiro e o que ninguém percebe é que eles se abraçam e há tanto desespero nesse aconchego e sussurram sonhos cor-de-rosa e carmim e ouvem as mãos eriçadas e a juntura amena que nunca os redimirá de si mesmos.

Assim são as coisas para sempre.

Whisner Fraga

Nasceu em Ituiutaba (MG), em 1971. É autor de As espirais de outubro (2007), Abismo poente (2009), O que devíamos ter feito (2019), entre outros. Tem contos traduzidos para o inglês, o alemão e o árabe. É responsável pelo canal Acontece nos livros (YouTube), em que fala sobre obras da literatura contemporânea.

Rascunho