Tradução: Antonio Miranda
O céu
Minha gente é um relato de graves despedidas.
Quase recém pisadas sobre o ardente ocaso,
entre a areia de luas e a palavra monte,
os traços estelares tornaram suave o tempo.
Eles vêm de sempre e eu com eles.
Vem como o vapor nas encostas,
flutuam como o vento taciturno,
fluem no sentido dos astros, plenos.
Eles vêm de sempre e eu com eles.
Céus do Puma.
Como a terra pelos carnavais,
eles desandam seu tremor
sob este mar turvo que dança e rebenta.
…
Cinzas sobre fogo
E vamos cantando.
com a voz aspirada e murmurante,
nos mata na memória
o inefável tempo do espanto.
Vamos por ir ao dia que termina,
e nos engalanamos de trovões e relâmpagos.
Que festejarei amanhã quando o povoado
seja tão somente sombra compungida
sem fogueiras, nem festas estelares?
Que brindará sua voz como seresteiro
para que cante Deus aprisionado
e adiante os céus à terra
por este ano feliz que ainda esperamos?
De que amor estão feitos os homens olvidados?
Mãe de minha Alma! Terra!
De tanto ver os morros e a distância,
a gente sente a fraqueza do silêncio,
e não quer pedir milagres miseráveis
ao tempo que esvai desesperado.
…
Alma
Guardo em silêncio traços milenares
submersos no fundo de meu abismo,
como uma flor de cardo no batismo
renascendo de ritos funerários.
…
A grande festa
Eles estão dançando.
Estão dançando alto cruzando o infinito
e os séculos de história e as causas perdidas,
entre flores de luz nascidas do orvalho.
Estão dançando enormes como astros acesos,
cada veste uma história, um mínimo detalhe,
cada quem, cada qual, detrás da máscara,
somente os olhos ocos na cara
para que ninguém saiba de que espírito
os dançarinos guardam sua linhagem.
Cada quem, cada qual, a vida e isso,
o tempo que brigamos em sonhos
dançando-lhe os medos da morte.