Catalunha

Leia os poemas "Barcelona", "Palamós", "Girona", "Museu de arqueologia" e "Barcelona"
Luíza Mendes Furia, autora de “Inventário da solidão”
01/08/2005

Barcelona

É noite na cidade
que mal conheço.
Janelas abertas (Barcelona entre parênteses)

Primavera
ainda tão fria
O gato
o lance de dados:
JJQ ♥ ♢ ♤ espalhados
— que significado
no chão da cozinha
ao acaso?

Palamós

No dia de tantas paisagens
planícies, árvores,
tarde de álamos desnudados
palavra tantos pássaros

Manhã
de mar enevoado
onde ancoraram meus passos

Girona

Para depois perfazer
sinuosos caminhos
de pedra com pedra
de pedra sobre pedra
escadas
cidade que escalei
ao som do sino
da catedral no alto
passeio pela alma medieval
assimétrica
de la Ciutat Vell

O tempo nos desvão das pedras
roladas
grandes e pequenas

Museu de arqueologia

Tempo sem relógios
macerado
na roda dos séculos
pinheiros ponteiros
furam o céu de abril
e vão varar intensos o azul de maio

Barcelona

A noite sobre a cidade
cujos segredos e verdades desconheço
na mente ainda um labirinto
cercada de muntayas
desaparecidas
agora

só vejo ao longe luzes
verdes, brancas, amarelas
a brilhar entre os gerânios
vermelhos e a rosa
das floreiras
no peitoril
da janela

Luíza Mendes Furia

Nasceu em 1961, em Caçapava (SP). Aos 16 anos publicou Madrugada e outros poemas (edição da autora). É autora de Inventário da solidão (poemas, 1998), O travesseiro mágico (infantil, 2013), Vênus em escorpião (poemas, 2016) e da tradução de Cemitério marinho, de Paul Valéry (2021). Site: https://malufuria.wordpress.com.

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