Poemas de Anna Apolinário

Leia os poemas "Talismã", "R.E.M." e "Códex"
Anna Apolinário, autora de “Magmáticas medusas”
15/01/2020

Talismã

Nas mãos de um anjo
o mineral mistério
onde o desejo se enraíza
e diabólico, floresce
cruel e escura ferida
no coração de Deus.

……………..

R.E.M.

Dentro dos livros,
interminável, vive.

Entre os lírios da língua,
alucinante, flutua.

No precipício das pupilas
atreve-se,
em insanas acrobacias.

Impiedoso,
dissolve os relógios.
Inesperada fera,
enfeitiça a memória.

Espanta o apocalipse,
acende três palavras mágicas
nas entranhas da eternidade.

Sob os cílios insinua-se,
indecifrável.

……………..

Códex

Uma canção toma de assalto a minha boca
e estilhaça a paz que não queremos.
Dentro da casa que erguemos,
não há mordaça que baste:
o sonho cresce selvagem no sangue.

Um verso acende molotovs na língua,
verve virulenta inventa a rebelião.
Um gatilho para o tumulto,
entre corpos pacatos e obedientes,
um acorde eriça a revolução.

Anna Apolinário

Nasceu em João Pessoa (PB) em 1986. Poeta, pedagoga, organizadora do Sarau selváticas, de autoria feminina. Autora de Solfejo de Eros (2010), Mistrais (2014) e Magmáticas medusas (2018). Participou da antologia Sob a pele da língua: Breviário poético brasileiro (2019), org. Floriano Martins.

Rascunho