A literatura paranaense é uma grande piada — temos dúzia e meia de bons escritores tentando se comer uns aos outros, numa autofagia de falsos afagos.
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Quando tentas atravessar a fronteira do Rio Atuba, em Curitiba, uma turba ímpia e nojosa te atira pedras, derrubando-te neste pequeno rio de merda.
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O Paraná foi inventado por uma elite de porqueiros indiferentes à cultura.
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Tudo aqui é uma farsa. A universidade de fachadas falsas, a civilização de cínicos, um jornalismo de torpes toupeiras americanizadas, escritores ilhados em si mesmos escrevendo com uma das mãos a coçar pêlos púbicos. Eis o Paraná, esta planície de pastagens culturais onde todos ruminamos um capim ruim.
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A fama de cidade classe média trouxe para cá escritores e jornalistas medianos, que aqui encontraram as condições ideais para produzir sua literaturazinha.
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O escritor aqui, pouco afeito ao verdadeiro trabalho intelectual, não tem disposição para escrever obras longas. São todos minimalistas por falta do que dizer e incompetência, e não por economia de meios, esta justificativa dos medíocres.
O Paraná só teve um escritor, Dalton Trevisan, o vampiro irado, distribuindo farpas para todos os lados, que soube ver sob nossas pretensões civilizadas e modernosas as mesquinharias que nos movem. O Paraná que vale é o inventado pelo vampiro da Rua Ubaldino do Amaral, coração de uma Curitiba sifilítica, que arranha, morde, cospe e grita.
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Que me perdoem a tia louca que escreve como se traduzisse um texto feminino do romantismo francês, o político corrupto com veleidades literárias, as bondosas viúvas do poetinha polaco com baba alcóolica no canto dos lábios, a besta experimental dos cravos pretos na cara de vovó da Mongólia, o grande sacana de cabelos pintados de preto e unhas vermelhas, com sua literatura de simulacros e histerias, o professor enrustido na sua ficção ao redor do umbigo e o pequeno crítico irascível com sua sensibilidade de bebê mimado e chorão, que me perdoem os bêbados que escrevem poemas de merda em guardanapos de bar, sonhando-se gênios (só se gênios da banalidade extrema!), que me perdoe a linda poetisa de coxas grossas, seios fartos e poemas ralos, meu Deus!, e pensar que um dia a desejamos, que me perdoe aquele maldito turco que escreve tão bem como os velhos bruxos, que me perdoe o cronista de futebol que sabe três ou quatro livros de cor, que me perdoem os velhinhos bem intencionados que escrevem nossa história como se fosse antigo bordado, que me perdoem todos, mas não passamos de um bando de bugios, a defecar na cabeça dos transeuntes, pulando de um galho a outro nas árvores deste apertado Passeio Público.
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Não foi apenas o pequeno Emiliano Perneta que teve sua glória circunscrita à Ilha da Ilusão, no Passeio Público. É lá que um dia todos estaremos, provincianamente homenageados num banquete de frutas pútridas, ao lado das grandes nulidades rutilantes.