professora A. do abandono nubente
o diabo começa
nas periferias da alma
“eu era tão pura tão
capaz de rezar para
que as pedras dessem
à luz pães”
mas o amor lhe foi uma
sede sem cura
pois quanto tudo é
fome malcurada — quando
tudo devora e não passa —
rogamos a esmo: ribanceiras
excrementos (vingança
eloquente como seu
enxoval de solteira-para-
-sempre em que ora com
arames borda
rascunhos para epitáfio)
…..
N. da cegueira inapaziguaável
a orfandade lhe foi um estágio
uma primeira
separação solene
e porque seu anjo
da guarda era de rapina
soube cedo que o amor
é como a imperícia
de um cego de nascença
tentando explicar as cores —
então desde então corações
alheios infeccionados
de cegueiras transparentes
lhe rugem
que amor
afeto e deus podem
muito bem ser obtidos
acendendo
simulacros de éden
em latinhas de alumínio
S. dos dois corações exigentes
no peito dois corações
um para os amores decrépitos
o outro para fenecer
por si
infinitamente
para um sevícias — para
o outro delícias
mas exige dos filhos
poupados do aborto
uma alegria desobediente
ao doer que resta do parto
e então sorri pura
cor-de-rosa turmalina
somente a quem permite
hospedar-se
nas adjacências de seu púbis
…..
D. da beleza soberba
porque um doutor lhe interpelara
o amor —
(aquilo de eternidades perecíveis)
“um mês exato
até seus ventrículos colidirem” —
como lembrança
do órgão
que fedia a amores mortos
ostentará
entre os seios perfeitos
um vertical feia
sutura de açougueiro
P. da L. do a.a.
aceito domesticar
o diabo inato
: aceito que é
progressiva esta necrose
aceito que meu voo
dure apenas doze passos
num só-por-hoje ao longo
de dezoito abstêmios anos
aceito que meu coração
torne-se flor e espoque
pois é mais bendita
a dor no peito
que aceita a faca
só não aceito
que a vida
me seja tão efêmera
como um fósforo