Marcelino Freire está na Argentina terminando Escalavra, seu segundo romance. “É um livro fugitivo faz tempo. O livro impossível. Eu insisto”, diz o escritor sobre a dificuldade em terminar a narrativa longa. Esse impasse, “talvez” seja “culpa” do conto, gênero em que ele se sente mais à vontade. Já são cinco coletâneas do que o pernambucano chama de “cantos”, “ladainhas”, “cirandinhas” e “vexames” — incluindo o importante Contos negreiros, vencedor do Jabuti em 2006.
Agora, após mais de duas décadas de produção (oficial, pois o autor escreve desde os anos 1980), o leitor tem acesso ao “melhor de Marcelino Freire” nas histórias curtas. A recente Seleta, publicada pela José Olympio, traz os contos mais emblemáticos do autor, escolhidos por ele mesmo. É uma espécie de greatest hits.
E não é exagero. Alguns textos ali podem ser considerados hits. Contos como Muribeca, que revista O bicho, poema de Manuel Bandeira, em uma denúncia social forte. Ou Homo Erectus, em sua militância gay bem ao estilo de Marcelino, falando sério de modo engraçado.
São contos que estão na boca da galera, como Da paz, sobre a “paz branca” ou “verde e amarela” do povo de bem, com seus milhares de views no YouTube.
A Seleta retoma uma tradição da José Olympio, que publicou no passado diversas coletâneas de nomes importantes da casa (Drummond, Clarice, etc.) visando o público estudantil e reunindo o melhor de cada autor ou autora em um só livro. É o que os gringos chamam de portable. O de Marcelino vem acrescido de uma espécie de making of das histórias, com “bastidores”. Um tira-gosto saboroso.
Aos 55 anos, Marcelino se tornou um nome importante da literatura brasileira contemporânea não só pelos livros publicados, mas também por conta de sua inquieta personalidade artística. Há 15 anos criou a Balada Literária, um evento inspirado na Flip, mas que se destaca por estar cada vez mais à margem do mainstream, resgatando e jogando luz em nomes ainda pouco conhecidos do público.
“Não perderemos nunca essa cara de encontro, de mesa de bar, de bebedeira, folia, afeto, amor, rebeldia”, diz o autor sobre o sentimento de “turma” que o move desde Geração 90, a coletânea organizada por Nelson de Oliveira que mostrou pela primeira vez vários nomes que ainda estão fazendo a literatura brasileira. “Não mexam comigo. Estarão mexendo com muita gente, entre vivos e mortos”, avisa.
• Você já havia publicado dois livros de forma independente, mas foi com Angu de sangue, em 2000, que estreia nacionalmente, digamos. O que mudou em sua escrita e em você de lá para cá?
Sinto uma certa falta daquele arranque. Do jeito em que cheguei enfezado aos contos do Angu de sangue. Tem uma história curiosa: metade de meus amigos, à época, não gostava do título Angu de sangue. Aí, como era meu primeiro livro por uma editora, perguntei ao saudoso crítico literário João Alexandre Barbosa, que me indicou à Ateliê Editorial, se valia a pena segurar aquele título. Ele respondeu assim, depois de uma baforada no cachimbo: “Esse título é bom, sabe por quê? Nunca comece calmo. Seu Angu pode ser tudo, menos calmo”. Amei isso. Digamos que hoje estou mais calmo. Continuo agitado, mas é uma agitação de vulcão adormecido, que pode acordar mais raivoso, se for preciso… Tô ficando velho, né? Feito um vulcão…
“Continuo agitado, mas é uma agitação de vulcão adormecido, que pode acordar mais raivoso, se for preciso.”
• Como surgiu a ideia de publicar essa Seleta de seus textos?
“Agora já posso morrer.” Pensei assim quando recebi a Seleta em casa. E logo com uma xilogravura na capa feita especialmente pelo mestre Ciro Fernandes (que vai fazer 80 anos em 2022). Essa série é clássica lá dentro da José Olympio. A coisa da “Seleta em Prosa e Verso”, se lembra? Tenho edições com Clarice Lispector, Manuel Bandeira… Aí a minha editora, Livia Vianna, me convidou para retomar a série, em que os autores e autoras escolhiam, dentro de sua própria obra, aquela produção, em prosa ou verso, que eles e elas julgavam seus melhores textos. Eu disse: “melhores” não, longe disso. Eu sou lá Pedro Bial… Por isso, sugeri um subtítulo para a minha Seleta. Daí ficou: Por pior que pareça. Ou seja: por pior que pareça, ali é um volume de meus contos preferidos. Gostem ou não gostem, foi o que pôde ser feito.
• No início do livro, você mesmo faz uma espécie de making of dos textos, revelando como foram pensados e escritos. Costuma voltar aos seus textos? Sente-se tentado a reescrevê-los?
Na hora de escolher os contos “preferidos”, pensei logo naqueles textos que as pessoas mais procuram, mais encenam, mais vêm me perguntar sobre. O Muribeca. O Da paz, por exemplo, é muito encenado. A atriz Naruna Costa o interpreta tem mais de dez anos. É um conto que ainda dói, que vive sendo falado na internet, viralizou por aí. Já vi versões faladas dele em Angola, Moçambique, em Bogotá e até na Itália. É um conto-manifesto contra a paz branca, a paz pálida, a paz “verde-e-amarela”. Foi escrito em 2006. Vixe nossa! Enfim. Fui escolhendo assim os contos que, de alguma forma, foram escolhidos por outras pessoas. Não costumo reescrever nenhum… Deixo como está. Mas alguns não gosto mais. Tem um conto meu gordofóbico. Limei. Ainda bem que os movimentos existem e não são “calmos” em suas alegações. Aprendo muito com essas reivindicações. Não sou nenhum Chico Buarque, mas certas músicas não tem que cantar mais mesmo…
• A influência de Dalton Trevisan é bastante visível em sua obra, com um texto minimalista e cheio de elipses, frases curtíssimas, etc. O autor curitibano é uma de suas maiores referências?
Amo Dalton Trevisan. Continua atual. Não encaretou. Toda vez vejo uma pegada nova ali nos escritos dele. Vejo até uma conversa dele com o rap. É certeiro. Tem uma história boa: eu estava organizando a antologia Os cem menores contos brasileiros do século (Ateliê Editorial, 2004). Queria porque queria a presença de Dalton. A antologia ficaria incompleta sem ele. Escrevi uma cartinha. Esperei, esperei. Até o último minuto. Aí ele enviou um microconto. Depois ficamos trocando outras cartinhas. Ele me mandou livro dele dizendo que é “meu leitor fiel”. Já posso morrer com essa. Uma vez, escrevi lá na Folha de S. Paulo: Dalton escreve rápido, mas escreve demorado. Não escreve na velocidade da luz, escreve na velocidade da sombra. Eu gosto do que ele “não escreve”. Dalton na prosa e Francisco Alvim na poesia são minhas “confluências”. Chamo de “confluências”, não de “influências”. Tudo é um desembocamento.
• E quem são os autores que não estão tão “visíveis” em seus textos, mas foram determinantes para você? Sei que Manuel Bandeira foi importante no seu início de leitor…
Leio muito peça de teatro. O teatro está lá, visível e invisível. Leio muita poesia. Poesia é o tempo todo onipresente, passado e futuro. Música também. Forró, Luiz Gonzaga. Jovens que estão chegando aí me inspiram na pegada, nos assuntos, naquele começo “nervoso”. Estou em uma fase lendo muito as travestis. O livro de crônicas, Transradioativa, de Valéria Barcellos, é uma pancada. A poeta Suzy Shock, da Argentina. A travesti, também da Argentina, Camila Sosa Villada. Amara Moira, minha amiga, me ensina muito. A revolução literária atual é feita pelas travestis. Estou com elas desde já, e desde sempre, nas linhas, nas entrelinhas…
• A carga oral dos textos é outro elemento marcante de sua literatura. Esse traço vem de onde, da literatura de cordel, do teatro do início de carreira?
Eita menino para ficar lendo, vai ficar é doente. Ave! Ô, Juvêncio, leva esse traste pro quartel. É um menino demente, pinel, nem serve pra ir à feira. Carrega um ovo, o ovo se quebra. O que tu quer ser quando crescer, trepeça? Sabe o que ele respondeu? Disse que quer ser poeta. Agora mais essa. Ô, Juvêncio, o que esse menino tem na cabeça, hein? É merda?
• Você já escreveu romance e um livro de ensaios. Mas seus livros mais celebrados são de contos. Sente-se mais à vontade na prosa curta? É seu habitat como escritor?
Estou na luta, faz tempo, para escrever meu segundo romance. Depois de cinco livros de contos, lancei em 2013 o romance Nossos ossos. Gostei demais do fôlego ali, inaugurado. Achei que o segundo romance sairia fácil. Estou penando. Gosto demais de escrever contos. Que nunca chamo de contos, chamo de “cantos”, “ladainhas”, “cirandinhas”, “vexames”. Mas os contos saem mais fácil. Daí fico desconfiado. Daí ter ido idem para os ensaios. Mas, na verdade, quero meu segundo romance. Neste momento em que estou respondendo a esse seu questionário, estou em Buenos Aires. Vim passar um tempo aqui, uns três meses, com todos os cuidados pandêmicos. Escrevi Nossos ossos por aqui [o livro foi publicado também na Argentina]. E agora acho que por aqui terminei a terceira versão definitiva do meu novo romance. Ele virou antes, até, uma experiência teatral. Põe lá no YouTube o nome “Escalavra”. Você vai ver lá: texto teatral baseado em um livro inédito de minha autoria. Pois é. É a porra desse romance, chamado Escalavra. É um livro fugitivo faz tempo. O livro impossível. Eu insisto…
• No conto Homo Erectus, você trata da homossexualidade de forma engraçada. Reflete muito antes de abordar essa questão? Ou isso é só mais uma temática entre tantas outras em sua escrita?
Sou homossexual. Não é de hoje. Nasci de sete meses para poder ser homossexual por mais tempo. A temática vem daí. E, por favor, não chamem o que escrevo de “temática gay”. Caguei não. Ninguém está cagando aqui. Por favor, corrigir: temática LGBTQIA+. Adoro essas letrinhas todas. Toda vez em que chega mais uma letra quero saber de quem se trata. Gosto de escutar todas as comunidades. Todas as quebradas, cantos, cânticos. No livro Angu de sangue, não tem nenhum conto de temática LGBTQIA+. No livro seguinte, escancarei essa questão que me é nascedoura. O livro BaléRalé é um livro político nesse sentido. Nossos ossos é colorido até a medula. A minha página é o meu lugar no mundo. O meu lugar é esse. O meu lugar é a partir desse lugar no mundo.
“Amo Dalton Trevisan. Continua atual. Não encaretou. Toda vez eu vejo uma pegada nova ali nos escritos dele. Até uma conversa dele com o rap eu vejo.”
• Durante a pandemia (que ainda está em curso), muito se falou do poder de resistência da literatura. Como saem os escritores e a própria literatura brasileira desse período difícil que todos enfrentamos?
Li muito durante essa pandemia. Reli Augusto dos Anjos. O poeta paraibano veio conversar comigo. Virou contemporâneo meu. Morreu de tuberculose, mas me ajudou agora a resistir. Eu saio mais poeta da pandemia. Porque a poesia me salvou, pegou na minha mão. A poesia é coletiva. Comprei muito livro em pré-venda de novos e novas poetas. Fiquei sabendo ainda mais quem anda do meu lado, qual lado escolhi da luta. Saio mais Sérgio Sant’Anna dessa batalha. Cada escritor, escritora que morreu por causa da Covid deixou essa marca na gente. Preciso honrar a memória dessas pessoas. E ir para o enfrentamento em nome das mais de seiscentas mil vítimas do descaso, do desgoverno, do negacionismo. A toda hora agradeço estar vivo. E, tendo ficado vivo, vou para cima de tudo que é assassino, genocida. A minha escrita se perguntou o que ela faz no mundo. Augusto dos Anjos me respondeu com a sua poesia atualíssima.
• Você é um dos autores brasileiros que mais circulam pelo país, ministrando oficinas e participando de bate-papos. Como administra o tempo de escrita? Consegue escrever em trânsito?
Como disse, estou em trânsito agora. Mas por minha conta. Gosto desse ziguezague, de dormir em outros quartos, conhecer os jornais de cada cidade. Eu me alimento de palavra. Fico o tempo inteiro ruminando. “O que esse menino tanto bodeja? Ô menino para bodejar!” O tempo inteiro estou escrevendo. As pessoas perguntam sempre: você viaja tanto (ou viajava, antes da pandemia) quando você escreve? Acho que as pessoas estão perguntando quando “eu digito”. Escrever não é só em frente ao computador. É em frente à rua. Em frente à calçada, no mato, no motel barato, em frente à fronha durante a quarentena, olhando nu para a parede.
• Em 2005, você lançou um livro poderoso chamado Contos negreiros, em que a temática do racismo e da desigualdade social se destacava. Como tem visto a abertura de espaço na literatura (editoras, prêmios, etc.) para autores negros?
Se há abertura é porque alguém trancou a porta. Vejo hoje muitas editoras abrirem só agora seus catálogos para a autoria negra. Editoras que sempre estiveram com as portas fechadas para essa autoria. Carolina Maria de Jesus, por exemplo, sempre teve as portas escancaradas para a literatura dela nos movimentos negros, nos cadernos negros, nos saraus pela periferia de São Paulo, nas bibliotecas comunitárias. Adoro chegar em uma livraria e encontrar, hoje em dia, o lugar que sempre foi de Lima Barreto por direito, de Machado de Assis, de Conceição Evaristo, de Geni Guimarães. Festejo demais e brigo com quem não festeje os prêmios e os reconhecimentos ao trabalho de Itamar Vieira Junior. Itamar que sempre abriu as próprias portas. Foi lá, escreveu Torto arado, enviou o livro para o concurso da LeYa, publicou antes seus trabalhos por pequenos selos. Itamar sempre esteve aí, no pedaço. Que maravilha que outras portas se abriram. Mas, mesmo que não se abrissem, os autores negros e autoras negras enfiariam o pé do mesmo jeito. Isso vem acontecendo faz tempo. Note os saraus festejando a poesia há décadas, fazendo seus próprios selos editorais pelas periferias… Note o movimento dos slams… Ninguém esperou as portas se abrirem, porque sabem muito bem construir as próprias chaves.
• Seleta é dedicada, entre outras pessoas, a Nelson de Oliveira, seu companheiro de geração 90. Já é possível fazer uma avaliação consistente desse grupo de autores? Qual o lugar da geração 90 na literatura brasileira?
Nelson de Oliveira sempre foi um agitador cultural. Fez pela obra dele e pela obra de muita gente. Provocou uma cena, chamou a atenção para quem escrevia pelo Brasil. Fiz muitos projetos com ele. Tenho saudades de tomar um café com Nelson. Somos vizinhos e o tempo foi ficando curto e veio a pandemia. Nesses cafés comigo, Nelson está sempre com um projeto na cachola. Adoro essa fase dele na difusão da ficção científica. Já é coisa antiga, toda realidade distópica presente nas antologias que ele organiza. Por tudo isso, e por ele ser um irmão de luta, dedico o Seleta também ao Nelson. Ele vai saber disso lendo esse Rascunho. Para você ver que estamos em falta um com o outro. A Geração 90 foi mais uma dessas provocações e agitações dele. Tenho o maior orgulho de ter feito parte desse arranque. Paralelamente à Geração 90, Ferréz organizou a revista da Literatura Marginal via Caros Amigos. Essas duas vontades, para mim, se somaram. Ferréz foi o primeiro a me mostrar Sérgio Vaz, Binho, Sacolinha. Nelson foi o primeiro a me mostrar Cíntia Moscovich, Pedro Salgueiro, Fausto Fawcett. O bom é isto. Era muita gente ciscando os parágrafos para que a literatura não ficasse parada… A literatura brasileira não foi mais a mesma depois desses dois.
• Diante do cenário literário atual — o que inclui feiras, editoras, revistas, etc. —, é mais fácil ser escritor hoje do que quando você começou? E ser lido, é mais fácil ou difícil?
Agorinha recebi a seguinte mensagem no direct do meu Instagram: “Gostaria de saber se você tem interesse em produzir vídeos nutellas/ nuggets/ reels para o seu perfil”. Rapaz, é difícil demais ser escritor hoje em dia se você levar a sério uma coisa dessas. Gosto de postar coisas lá no Instagram. Tenho 26 mil seguidores. É pouquíssimo em comparação a outros perfis. Mas tem gente que me escreve assim: “Você poderia colocar no seu perfil o anúncio do meu livro?”. O cara quer dizer o que devo publicar lá na minha página. E se isso fosse verdade, os meus 26 mil seguidores, eu venderia 26 mil livros. Não é real. Fica difícil ser escritor hoje para quem acredita nisso. Tem gente que vem me perguntar como faz para contratar um assessor de imprensa. E o cara nem escreveu o livro e já quer uma nota na coluna social. Enfim… mas o que tem essa minha resposta a ver com a literatura propriamente dita? É que antigamente eu não recebia uns absurdos assim. Ninguém me encontrava com tanta facilidade. Hoje é cada coisa que chega aos nossos olhos. Nudes, então, perturbam qualquer parágrafo. Aliás, quem quiser, pode entrar em contato lá via meu direct…
“Eu sou homossexual. Não é de hoje. Eu nasci de sete meses para poder ser homossexual por mais tempo.”
• Você está há 30 anos em São Paulo. A cidade parece combinar bem com sua personalidade múltipla, de fazer várias coisas ligadas à literatura. São Paulo te inspira?
São Paulo me mostrou Sertânia, a cidade em que nasci. São Paulo me deu Paulo Afonso, onde vivi, lá na Bahia. São Paulo me deu as pontes do Recife. Nunca fui tão pernambucano como morando em São Paulo. Ganhei memória, ganhei terreiro, ganhei quintal. São Paulo foi quem me deu sotaque. Em São Paulo, todo mundo me pergunta de onde sou. Encho a boca e digo que sou “de Sertânia”. São 30 anos afirmando a minha terra. Essa fala trago para literatura. As rezas, as lamúrias, os queixumes. Percebo que cheguei em São Paulo já com uma multidão de vozes dentro de mim. Era São Paulo buzinar e eu gritar mais alto.
• A Balada Literária, evento que criou, tem mais de 15 anos. Que avaliação faz desse percurso? O caráter “alternativo”, longe do mainstream, está cada vez mais consolidado, não?!
Olha só: Pedro Lemebel vai ser lançado finalmente no Brasil. A Companhia das Letras promete para este ano de 2022 a publicação do único romance desse grande autor chileno, Tengo miedo torero. Lemebel esteve na Balada Literária em 2013, pouco tempo antes de ele falecer. Outro Pedro, o Mairal, esteve em uma das primeiras edições. Ele, autor argentino, que é festejado hoje no Brasil e publica pela Todavia. Carolina Maria de Jesus foi homenageada em 2014. Caetano Veloso já veio. Raduan Nassar veio também, ao vivo. A amada Conceição Evaristo, umas vezes. Suzana Amaral recebeu homenagem pelo trabalho literário que fez no cinema. Rogéria, um ano antes de morrer, veio receber uma homenagem nossa. É muita história que eu precisaria passar um tempo lembrando, celebrando. O que me orgulha na Balada Literária é ela ter sido sempre, e ainda é, uma festa para todos os gêneros sexuais e literários. Todo mundo junto ao mesmo tempo agora. Não perderemos nunca essa cara de encontro, de mesa de bar, de bebedeira, folia, afeto, amor, rebeldia. Sem contar a parceria com Nelson Maca, de Salvador, onde a Balada acontece desde 2015, e com Wellington Soares, de Teresina, onde acontece desde 2017. Não estou sozinho. É toda uma equipe. Não mexam comigo. Estarão mexendo com muita gente, entre vivos e mortos.
• Como imagina (ou planeja) que serão seus próximos 20 ou 25 anos de produção, até a próxima Seleta?
Agora, neste mês de março, faço 55 anos. Daqui a 20, estarei com 75. Daqui a 25, 80 anos. Tenho acordado já, a cada dia, com uma dor diferente. Tomo remédios para pressão. Estou gostando muito de fazer meus cursos de criação literária. Gosto de ouvir, de conhecer gente que está chegando. Meu desejo, para os próximos anos, é ir morar no mato. E ficar de lá falando, via Zoom, com algumas poucas pessoas que ainda queiram fazer minha oficina. Acho que já fiz muito. Essa entrevista mesmo, vai sair na íntegra, é? Porra! Outra vez já posso morrer.