“Viajar é essencial para arejar”, afirma o escritor Santiago Nazarian enquanto se dedica à escrita do seu novo romance durante uma estada na praia. Pelo que se vê, para o autor de Neve negra, as férias são apenas uma convenção do calendário e não há motivos para parar de trabalhar.
“As férias são também momento de trabalhar em projetos pessoais, aquele livro há muito adiado”, explica em entrevista por e-mail ao Rascunho. Muito mais que uma chance de descanso, o recesso de final de ano é para Santiago uma oportunidade de mergulho naquilo que não pode viabilizar ao longo do ano anterior. Quase um acerto de contas com o chronos.
• Como são as férias para um escritor? Esse é um momento de leitura ou distanciamento dos livros?
Eu não poderia generalizar, mas acho que para muitos escritores trabalho e férias se misturam. Para os que têm um trabalho regular, as férias são também momento de trabalhar em projetos pessoais, aquele livro há muito adiado. Para os que vivem em frilas, como eu, não existem exatamente férias — e sim momentos de ócio e culpa — em que até podemos trabalhar num livro, mas nos sentimos culpados por não estarmos fazendo algo mais rentável… e desagradável.
• Você usa as férias como um período criativo? Como é a sua dinâmica nesse momento?
Eu nunca me dou ao luxo de parar de trabalhar. Nas viradas do ano, em que param os eventos literários, agradeço as traduções que aparecem. É o que faço agora. Estou na praia, trabalhando num próximo romance, mas com todas as manhãs reservadas para as traduções que pagam as contas.
• Houve algum autor que você descobriu nas leituras de férias e que acabou por se tornar essencial na sua formação como leitor?
As leituras continuam, porque também são mistura de trabalho e prazer. Mas ao menos me dou ao luxo de não precisar ler a pilha de inéditos, iniciantes e amigos que pedem opiniões e aspas. Para esses a desculpa das férias é válida. Assim posso me dedicar mais a leituras pessoais.
• Existe algum momento marcante das suas férias na infância que reverberou na sua literatura?
Não há nenhum momento marcante das minhas férias que tenha reverberado na minha literatura porque não me inspiro muito em fatos ou momentos da minha vida. O que já aconteceu não precisa ser escrito.
• Quem acompanha você nas redes sociais — e também no seu blog — percebe que você viaja bastante. Como essa peregrinação por diversos lugares está inserida nas suas narrativas?
Eu trabalho em casa. Então viajar é essencial para arejar. Mas acho que para os cenários realmente repercutirem na minha escrita é preciso que eu tenha uma familiaridade maior do que a de um turista. Por isso vira e mexe tento morar uns tempos fora, seja Londres, Helsinque, Porto Alegre ou Florianópolis.
• Que livro você indicaria como leitura para as férias?
Acho que as leituras de férias da infância mais importantes para mim foram os contos de Grimm, em volumes ilustrados onde os meninos eram sempre loiros andróginos de bochechas rosadas, mas que conseguiam matar o dragão… Hoje ainda acho que contos são uma boa leitura para essa época. E aproveitando a virada do ano, indico Réveillon e outros dias, do Rafael Gallo, livro de contos vencedor do Prêmio Sesc há alguns anos.