De lado para o mundo

Entrevista com Antonio Prata
Antonio Prata. Foto: Divulgação
01/02/2014

Quando criança, não muito distante do nível do chão, Antonio Prata levantava os tacos soltos do piso de casa com uma tampa de Bic para espiar o que se escondia ali embaixo. Felizmente, ele não passou do 1,68m de altura e aprendeu a “viver a vida sem embolorá-la no mormaço do dia-a-dia”: uma mosca morta, uma unha cortada ou um grampo de cabelo, “pequenos achados arqueológicos” do garoto paulistano cuja infância é narrada em Nu, de botas, continuam sendo matéria do cronista.

Neste novo livro, Pratinha, como é conhecido, revisita as aventuras com os amigos do bairro, a aversão a cuecas, o divórcio dos pais e uma tentativa de nadar até a África, contadas pelo ponto de vista da criança que não entende lá muito bem o mundo, e o vê lúdico e misterioso. Para o autor, no entanto, não há dúvida de que se trata de uma obra de ficção — por vezes mais próxima da crônica, outras do conto: “Como achar que um texto feito aos 36 sobre uma memória dos três anos de idade possa ser outra coisa?”. Também nas crônicas semanais para a Folha de S. Paulo ele dispensa a fidelidade à realidade e as solas gastas do flâneur. Uma boa história, segundo este escritor que passeia ainda pelo conto e o roteiro para televisão, está tanto na internet ou presa no trânsito quanto ali na esquina: é uma questão de flânerie mental, de burilar o texto e — preferência de sua pena — uma pitada de humor.

Na entrevista a seguir, Antonio Prata, nascido em 1977, vencedor do Prêmio Brasília de Literatura em 2012 com Meio intelectual, meio de esquerda (Editora 34), discute o novo livro, a infância (“o pior período da vida”) e a importância da literatura num mundo “profissionalizado” e comentado demais.

Sua primeira crônica, escrita aos 14 anos, fez sua mãe chorar: era sobre a demolição da casa da sua família. Hoje, no entanto, o humor parece estar sempre presente nas suas crônicas, mesmo as que abordam assuntos mais sérios ou de viés nostálgico. Por que enveredou pelo humor? Ele é uma das suas marcas ou é elemento imprescindível à crônica literária em geral?
Não acho que toda crônica tenha que pender pro humor. As maiores crônicas do Rubem Braga são mais líricas do que engraçadas (embora uma pitada de humor sempre esteja lá — como, aliás, em qualquer coisa feita com inteligência). Eu pendo mais pro cômico, sim. Acho que todo comediante é antes de tudo um covarde. Você não tem coragem de enfrentar o mundo de frente, então enfrenta de lado, que é como o humor se relaciona com a matéria. O humor seria, portanto, uma espécie de ressentimento que não se ressente. Talvez a covardia seja genética (nas minhas primeiras memórias, pelo menos, já estou assustado…), mas acho que teve algo do contexto em que cresci que favoreceu a minha enveredada pelo humor. Eu estudei, da primeira à sexta série, na escola da minha avó. A classe era, portanto, uma extensão da minha casa. Isso é bem ruim se você tem sete, oito, nove anos, porque a escola deve ser um lugar onde seus pais não estão te vendo, um território livre. Pra mim, não era. Eu tinha que ser um bom menino, porque tudo chegava direto nos meus pais, mas queria ficar amigo dos outros garotos também, sem ser o caxias da turma. Pra conseguir fazer o jogo da obediência e da subversão ao mesmo tempo, ou eu virava psicótico ou fazia piada — ocupava dois lugares sem ocupar nenhum, que é o que o humor faz. Não levava muito a sério nem a obediência nem a desobediência. Fico feliz por ter enveredado pelo segundo caminho. (E esses dois elefantes cor-de-rosa que me acompanham aonde quer que eu vá sempre dizem que foi mesmo a melhor opção.)

Nu, de botas não é bem conto nem crônica, nem uma novela ou um livro de memórias, mas tem elementos de todos esses gêneros: leveza, humor e lirismo da crônica, com pitadas de ficção e base na memória. Como nasceu o livro? Quais foram as dificuldades e prazeres em revisitar, retratar e por vezes ficcionalizar fatos e personagens da infância?
O livro nasceu a partir de um trabalho que fiz em 2003. Fui chamado para escrever um livro institucional da escola onde estudei dos dois aos cinco anos, a Escola Viva. Pra isso, voltei ao colégio e assisti a aulas com as crianças por várias semanas. Ali me voltaram muitas memórias. Fui anotando, escrevendo aos poucos, até que vi que tinha um livro. As dificuldades foram aquelas de todo livro: fazer as histórias ficarem legais, achar o tom e burilar o texto. Embora a maioria dos textos tenha nascido de memórias, trato o livro como ficção. Como achar que um texto feito aos 36 sobre uma memória dos três anos de idade possa ser outra coisa?

Li o seguinte comentário sobre o livro: “Ganhei a infância que perdi”. Que característica de ser criança você lamenta ter perdido, ou acha que deveríamos tentar preservar?
Olha, fiquei feliz com esse comentário, mas não queria ganhar a infância que perdi, não. Tenho cá pra mim que a infância é o pior período da vida. Uma eternidade em que não temos nenhuma autonomia, não entendemos como o mundo funciona, sofremos pra burro pra aprender as coisas mais básicas. Você não escolhe o que vai comer: senta pra almoçar e descobre que tem sopa de espinafre; depois vai pra escola e te mandam colar umas sucatas quando você tava mais a fim de brincar no tanquinho de areia; à noite, deita pra dormir e tem certeza absoluta de que tem um monstro embaixo da cama. Na adolescência melhora um pouco, mas não muito. Bom mesmo é ser adulto.

Como foi escrever o livro sem o prazo semanal do jornal ou o limite de caracteres, sabendo que os textos seriam lidos em conjunto?
O problema não é a falta de prazo ou o tamanho, é ter um monte de outros trabalhos que me tomam o tempo: crônicas pra Folha, roteiros pra Globo e outros projetos que aparecem. Tenho que pegar aquelas horas que seriam pro lazer e dedicar ao livro. Ou aproveitar raras janelas em que não tinha nada na Globo e me concentrar no Nu, de botas. Mas foi assim a vida toda, a dificuldade de conciliar os trabalhos. Por outro lado, uma coisa alimenta a outra. Os roteiros me ensinam mais sobre a criação de histórias, as crônicas me dão mais experiência no humor ou em diálogos e, claro, o trabalho pago patrocina o não pago.

• E como é sua rotina de trabalho?
É chata como a de qualquer trabalhador. A única diferença é que a distância entre a cama e o escritório é de quatro metros. Acordo, tomo banho, tomo café, sento no computador; depois almoço, volto pro computador e assim vou até o final da tarde ou até acabar a tarefa daquele dia. Nesse processo, bebo mais litros de Coca-cola Zero do que a Organização Mundial de Saúde acharia saudável.

Um clássico elogio ao cronista é o título de “observador atento do cotidiano”. A experiência do cotidiano está no Twitter e Facebook tanto quanto nas ruas? Ainda é necessário “andar na rua, comer pão na chapa, ouvir as conversas em torno” — palavras de Humberto Werneck?
Algum cronista carioca (ou mineiro radicado no Rio) disse certa vez que era impossível fazer crônica em São Paulo, porque a crônica era um “gênero a pé”. (Não sei quem disse isso, li há muito tempo, cito de memória.) Eu discordo. Existe condição mais propícia à flânerie mental do que uma hora parado na Avenida Rebouças, assistindo àquela parcela enlatada da humanidade rosnar suas buzinas, falar em seus celulares, querendo matar uns aos outros com seus carros? Outro dia o Ruy Castro escreveu uma ótima crônica dizendo que Dorival Caymmi não sabia nadar — e, no entanto, quem teve mais intimidade com o mar? Ou seja, o mundo está em toda parte, na padaria, na internet, dentro da nossa cabeça, quando estamos num elevador no quarto subsolo de um shopping center. É claro que um escritor precisa ser um observador atento, mas se ele conhecesse uma pessoa só na vida e escrevesse bem sobre essa pessoa, descreveria a humanidade.

Quais autores foram fundamentais para sua formação de escritor/leitor?
Para começar pela infância: João Carlos Marinho, Ruth Rocha, Lygia Bojunga Nunes, Hergé, Goscinny & Uderzo, Maurício de Souza. Depois: Campos de Carvalho, Cortázar, Drummond, Millôr, Verissimo, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Kurt Vonnegut, Nietzsche, David Sedaris.

Você publica crônicas na imprensa desde o início dos anos 2000, seus leitores já identificam seu tom, estão habituados, fidelizados. Houve um momento em que sentiu que estava se repetindo ou preso a uma fórmula?
Olha, eu não acho que os leitores estão “fidelizados”. Até porque eu mudei de veículo e de público mais de uma vez. De 2001 a 2008 escrevi para meninas, na Capricho. De 2003 a 2009 escrevi no Estadão, e de lá pra cá, na Folha. Mas é verdade, sim, que de uns anos pra cá tem mais gente me lendo. Fico feliz com isso — embora ficasse bem mais feliz se tivesse um público como o do Paulo Coelho ou da J.K. Roling e pudesse comprar um apartamento em Paris e outro em Nova York e uma casa na Bahia e me dedicar totalmente à escrita, à leitura dos clássicos e à degustação de cervejas artesanais. Sobre repetir a fórmula: espero que não. Embora uma coisa seja estilo e outra seja repetição. Quando vou ler um conto do Cortázar, um romance do Kurt Vonnegut ou uma crônica do Rubem Braga, torço para encontrar lá aqueles escritores que eu tanto admiro. Isso não é ruim, necessariamente. Agora, como cronista, é inevitável ter semanas ruins. Meu consolo é pensar que só o melhor sairá em livro. Minha angústia é saber que hoje está tudo na rede, pra sempre (ou, pelo menos, até a próxima hecatombe nuclear ou até o choque de um asteróide contra a Terra). O que a gente lê do Rubem Braga hoje em dia é exclusivamente o que ele publicou em livro, que deve ser uns 10% do que ele escreveu.

O que é este melhor da sua produção, que vale ser publicado em livro? Ou: o que é uma boa crônica?
Nem sempre uma boa crônica pode ser publicada em livro. Ela pode tratar de um assunto muito específico que perde o sentido no futuro e o cronista não pode se furtar a tratar desses assuntos por querer a POSTERIDADE. Não sei bem explicar o que é uma boa crônica, como não saberia dizer o que é um bom romance ou um bom poema. Há tanta diversidade dentro de cada gênero, né? Vai aqui uma tentativa (mas que, de forma alguma, encerra o assunto): uma boa crônica é aquela que parece que não tá falando nada e tá dizendo tudo.

A crônica literária seria um contraponto necessário aos tempos atuais, por não ter a obrigação de informar ou esclarecer, por ser um texto que tem graça e lirismo? Ou ela pode incomodar, fazer o leitor se questionar? Até onde deve ir a “gratuidade” associada ao gênero?
Acho que há algo de anacrônico na crônica (com trocadilho, por favor). O mundo profissionalizou-se muito nas últimas décadas. As comidas têm tabelas nutricionais, os pais fazem gráficos e planilhas pra dar papinha pras crianças, até pra jogar peteca o sujeito consulta um personal trainer — qual o alongamento correto? Como otimizar a petecada com a canhota? Riscos e lesões comuns e como evitá-los… Os jornais seguiram esse movimento e a várzea onde crescia a crônica foi ocupada por especialistas, comentadores profissionais. Por isso, acho que a crônica, como a literatura em geral, é ainda mais importante hoje do que antes. Pra tirar as pessoas do trabalho. Pra fazê-las olhar um pouco pro lado e pra dentro. Pra distrair, até. Quanto a ela ter de ser leve ou poder incomodar: pode incomodar, se o cronista quiser, mas o mundo já é tão incômodo que eu prefiro fazer almofadas do que tachinhas.

A leveza e o tom de conversa da crônica literária podem dar a impressão de facilidade. Como é “forjar” essas características?
É trabalhoso. Só polindo a gente consegue uma superfície lisa. Mas isso é igual em todos os gêneros: seja para se criar suspense, riso, angústia, o escritor sempre terá que burilar sua escrita. Diante de escritores, as pessoas sempre querem saber “de onde vêm as idéias”. As idéias não são o problema. Todo mundo tem zilhões de idéias que dariam ótimos romances, filmes, crônicas. O duro é pôr de pé. É achar o tom. É não repetir a palavra “que” seis vezes no mesmo parágrafo — e, tirados os “quês”, manter o ritmo que havia antes.

Você se coloca como narrador de suas crônicas no jornal ou considera-o um personagem?
Ambos. Eu faço as crônicas em primeira pessoa, mas essa primeira pessoa aí é um narrador inventado ou, vá lá, adaptado. Eu não penso ou ajo necessariamente como eu penso ou ajo nas crônicas. Ali o narrador vai pro lado que for mais divertido, se a intenção for fazer rir, ou mais lírico, se esse for o viés. Claro que, num texto opinativo sobre, sei lá, aborto, eu não tomarei tal liberdade: aí sou eu mesmo e penso aquilo mesmo. Mas esses textos opinativos — que eu raramente escrevo — não são crônicas. São colunas. Opiniões. Crônica é outra coisa. Muitas das que escrevo, aliás, são ficção do começo ao fim. Eu digo que estava num parque e encontrei um amigo que estava se separando: isso é inventado. Às vezes as pessoas se surpreendem ao ouvir isso. Acho que o fato de a crônica sair no jornal ajuda na confusão. Pensa-se que o que se escreve num jornal é verdadeiro, até na crônica. Agora, mesmo quando faço crônica sobre um fato acontecido, acho que é ficção, pois se trata de uma elaboração em cima de um acontecimento, trata-se de uma fabulação. O próprio recorte, o que eu chamo de “um acontecimento” já é uma elaboração literária, uma edição da realidade.

Recentemente, numa entrevista ao Rascunho, Xico Sá reclamou da falta de humor na literatura brasileira. Você concorda? O humor é considerado “menor”, como ainda acontece com a crônica?
Olha, o humor e a crônica são considerados “menores” por meia dúzia de almas bolorentas que acham que o que dói é mais valioso do que o que não dói. É uma espécie de masoquismo estético. Mas a maioria das pessoas, as que lêem as crônicas ou riem de textos engraçados (como os excelentes textos do meu querido amigo Xico Sá) não tão nem aí pra esses conceitos de maior, menor, mais nobre, menos nobre, elas querem é um texto bom pra ler.

Justamente: há autores que só escrevem movidos pela dor, ou por um tema que lhes é muito caro; outros querem se reinventar a cada livro e desejam que sua literatura desestabilize o outro. O que move sua criação, o que espera da literatura e o que deseja causar no leitor?
No caso da crônica, a resposta é fácil, o que a move é o prazo. E vou te dizer, não existe motor melhor que esse… No caso de textos que escrevo sem destino certo, não sei explicar o que me move. É uma comichão, uma vontade de contar uma história que surge de repente. É como se aquela história quisesse muitíssimo vir ao mundo e eu tenho que ajudá-la nesse caminho. Por que essa história quer vir ao mundo e por que exatamente daquele jeito, só as tomografias computadorizadas de 2076 poderão dizer. Ou nem elas.

E antes de escrever você já sabe se a história será conto, crônica ou romance? Aliás, você terminou recentemente um romance, seu primeiro, não? O que o leva a transitar por estes gêneros? Qual deles o realiza mais como escritor?
As idéias geralmente já vêm no escaninho certo. Romance eu nunca escrevi, só conto, crônica e roteiro. (Escrevi boa parte de um romance, mas não tava ficando legal, abandonei. Uma hora dessas irei retomar.) Todos os gêneros me agradam, cada um a sua maneira.

O que não estava dando certo nesse romance? Xico Sá disse que se preocupava com a possibilidade de estar sendo cronista também no romance, quando escreveu Big Jato. Isso aconteceu com você?
Não foi bem esse o problema. Ele não estava soando como crônica, mas como um romance escrito por outra pessoa. O tom de romance eu achei, não achei foi o tom do MEU romance. Aí, depois de 200 páginas escritas, percebi que era melhor deixar de lado. Como se diz na culinária, “reservar”. E ali está, aguardando um bom refogado pra voltar à panela. (Ou não, como dizia o poeta.)

A opinião dos leitores, que chega a você semanalmente, a cada crônica, influencia sua escrita? A internet está mudando o modo como as pessoas lêem e respondem a um texto?
Eu espero que não influencie. Quem escreve para um cronista ou comenta na internet está entre os 10% que adoraram e os 10% que detestaram. Oitenta por cento das opiniões não são computadas aí. Ou seja, se deixar levar pelas opiniões vai te dar uma impressão errada de como você é lido. Agora, tenho curiosidade, claro, de ver que crônicas agradam ou desagradam. Muitas vezes me surpreendo. 

O colunismo ou textos de opinião sobre acontecimentos políticos e sociais da hora, que ostentam um posicionamento contra ou a favor de determinado assunto, estariam tomando espaço ou se confundindo com a crônica literária?
Sim, sem dúvida, como eu disse lá atrás. Há muito poucos cronistas em atividade na imprensa, hoje. Uns dez, no máximo. Há muitos colunistas. (Só a Folha tem mais de 90.) Eu gostaria de ver mais cronistas. 

Há cronistas que são reconhecidos como retratistas de uma época e uma sociedade, quase como um registro antropológico. Ao retratar sua infância em Nu, de botas, você fala também de uma fase de toda uma geração, além da classe média liberal dos anos 1980; assim como no jornal acaba registrando os costumes de hoje. Realizar um retrato da sociedade é um de seus objetivos?
Não, de jeito nenhum. Acho que qualquer um que se propuser a fazer um registro de sua época (e que não for o Balzac) vai se dar mal. Vai escrever algo chato e pretensioso. Eu escrevo sobre mim e sobre personagens que vivem no mundo que eu conheço, que é esse quinhãozinho paulistano classe média que começa em 1977 e segue até hoje. Sendo assim, é inevitável que uma ou outra característica da época venha junto, na rede. Pensando melhor, isso acontece com qualquer escritor, né? Mesmo que ele escreva ficções científicas que se passam em Marte, em 2098, um leitor atento poderá perceber características da própria época falando por ele.

• “Se eles [adultos] não sabiam nem a função da cueca, como confiar no resto?” Frente à desconfiança da sabedoria dos adultos, dúvidas em relação ao funcionamento do mundo e os questionamentos existenciais, o que você gostaria de dizer ao seu eu de dez anos de idade? E o que, durante a visita à sua infância, esse seu “eu” lhe ensinou?
Eu diria: “Antonio, calma, já já você vai poder usar a roupa que quiser e comer brigadeiro no jantar, se estiver com vontade”. Não sei o que aprendi no processo, mas depois que publiquei tive esse grande prazer que a escrita sempre me proporciona, que é descobrir que aquelas coisas que eu achava mais íntimas, pessoais e intransferíveis, existiam de uma forma muito parecida em milhares de outras pessoas. No caso do Nu, de botas, a descoberta é que todo mundo carrega memórias da infância e elas têm um peso muito grande. Como diria o Arnaldo Antunes numa música muito bonita: “Saiba, todo mundo foi neném/ Einstein, Freud e Platão também./ Saiba, todo mundo teve infância/ Maomé já foi criança”.

Leia resenha de Nu, de botas.

Yasmin Taketani

É jornalista.

Rascunho