Amigo de fé

Desconhecido e persistente, o londrinense Paulo Hirano volta a concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras
Paulo Hirano: leitura e oração. Foto: Gustavo Ferreira
01/12/2005

Londrinense de 69 anos, filho de imigrantes japoneses de Kyoto, criado na lavoura do café em Rolândia, Paulo Hirano está, mais uma vez, na mídia nacional. Quem? Hirano. Jornalista, publicitário, poeta, escritor e músico desconhecido. Apenas um nome nos jornais, impresso entre cinco outros, mais notórios: Nelson Pereira dos Santos, Dario Castro Alves, Jorge Tannuri, Ronaldo Cunha Lima e Waldemar Cláudio dos Santos (leia o box). Quem é Hirano, afinal? Simples: alguém que sonha com a imortalidade literária e espiritual, e que nunca, até o fim da vida, abrirá mão desse sonho. A morte recente do diplomata e historiador Sérgio Corrêa da Costa, ocupante da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, colocou-o novamente na pauta do dia. Assim, pela sétima vez, Hirano concorre a uma vaga na ABL. Já disputou as cadeiras deixadas pelos acadêmicos Roberto Campos, Evandro Lins e Silva, Raymundo Faoro, Geraldo França Lima, Roberto Marinho e Celso Furtado.

Desconhecido, mas persistente. Paulo Hirano é autor de 27 livros, sendo que apenas um deles chegou a ser editado. Trata-se do volume de poemas Extroversão, lançado em 1979 e prefaciado pelo escritor Vasco Taborda Ribas, da Academia Paranaense de Letras. Fala português, inglês e japonês. Já morou no Japão, aliás. Hoje mora sozinho em Curitiba, mas é pai de dois filhos, Dario e Suzana. Vive conectado à internet e costuma enviar e-mails a diversas redações jornalísticas do Brasil. Adora registrar sua opinião, sobre qualquer assunto. Entre suas principais atividades estão a oração e a leitura. Seus livros favoritos são Profecias, de Pietro Ubaldi; Enterrem meu coração na curva do rio, de Dee Brown; Mônica Lewinsky: a minha história, de Andrew Morton; O ser e a consciência, de S. L. Rubinstein; e A princesa sob os refletores e A princesa à espera, de Meg Cabot. Hirano também integra as seguintes entidades: Academia de Letras e Artes de Paranapuã (RJ), Academia Irajaense de Letras e Artes (RJ), Academia de Bellas Letras Del Cono Sur (Uruguai), União Brasileira dos Escritores (MS), União Brasileira de Trovadores (PR) e Clube Literário Brasília (DF).

Nesta entrevista ao Rascunho, Paulo Hirano revela o que espera de sua nova candidatura e o que pode oferecer aos acadêmicos e à cultura nacional. Também fala sobre suas chances de vitória, lembra de sua semelhança com o cantor Roberto Carlos e opina sobre a obra dos seus imortais prediletos.

• Como o senhor avalia as suas chances?
É difícil avaliá-las quando os jornais noticiam suas predileções ou os mais cotados a vencer. A única coisa que posso dizer é que aprendi a não cantar vitórias nem professar derrotas. Se meu destino é um dia ser honrado com uma vaga na ABL, certamente serei eleito, e tentarei honrar a Casa de Machado de Assis da melhor forma possível.

• Por que o senhor quer ser imortal? O que a ABL ganhará com o seu ingresso?
Acredito que qualquer escritor gostaria de pertencer a uma entidade cultural de tanto reconhecimento nacional. Com meu ingresso, a ABL certamente ganhará o meu respeito, o zelo pelas coisas da academia e a amizade para com os ilustres acadêmicos. Também procurarei fazer o possível e o impossível para elevar o nome e o conceito da instituição.

• O senhor pretende fazer campanha?
Para ser sincero, não. A única coisa que tenho feito é levar ao conhecimento do presidente da ABL (Ivan Junqueira) tudo o que faço. Mostro que sou persistente, operante, incansável e batalhador, e que estou preocupado com a cultura e as coisas sociais. Meus 23 livros pré-edição já estão na biblioteca da academia, segundo as palavras do seu presidente. E acredito que, dentro de 15 dias, eu possa enviar a ele mais três títulos: Palco da vida (fatos), Estrela-guia (poemas) e 150 poemas que mexem com os corações.

• Qual a função da literatura?
Por meio dela mostramos a cultura, criamos a cultura, registramos a cultura, ajudamos a pensar, a imaginar… Enfim, a literatura faz parte da cultura de um povo organizado e civilizado.

• O senhor tem enviado originais a alguma editora? Por que não publica mais livros?
A primeira vez que procurei uma editora foi quando publiquei meu primeiro livro, Extroversão (poemas, Libero Técnica, 1979), prefaciado pelo escritor Vasco Taborda Ribas. Depois disso, procurei a editora Vozes para tentar publicar um livro ilustrado, As maravilhas modernas e exóticas do Japão 2000. No entanto, na época (1993), achei exorbitante o custo para imprimi-lo: a “bagatela” de 19 milhões de cruzeiros.

• Como foi a sua educação?
Sempre muito complicada. Em Rolândia (norte do Paraná), quando eu era pequeno, por pertencer a uma família de imigrantes japoneses, havia o costume de falar japonês em casa e, na escola, a língua portuguesa. Isso criava um conflito muito grande, uma verdadeira desordem na minha cabeça. Acredito que o problema não foi só meu e, sim, de todos os filhos de imigrantes — japoneses, alemães, suecos, holandeses e outros — que faziam parte da nossa comunidade na época. Os filhos de japoneses freqüentavam a escola primária pela manhã, fazendo uma caminhada de quatro quilômetros de ida e quatro de volta. No período da tarde íamos para a escola japonesa e, para tanto, percorríamos outros três quilômetros de ida, e o mesmo tanto de volta. Assim era nossa rotina. Aprender o que com essa confusão toda?

 • Como é o seu dia-a-dia?
Procuro viver em paz, em oração, não importa onde eu me encontre. Dia e noite estou em oração. Não sou um religioso, mas alguém que tem fé o bastante para esquecer tudo — se for necessário — para praticar o que o momento exige. Freqüento a Igreja Universal do Reino de Deus pelo que é ensinado naquele lugar, e por considerá-la uma escola de primeira grandeza. Seus ensinamentos visam a corrigir os costumes equivocados dos dias de hoje. Lá, trabalha-se para que as pessoas jamais aceitem a derrota, o fracasso, a prática da prostituição, a corrupção, as mentiras, o uso do tabaco, da maconha, da cocaína, da heroína e de outras substâncias tóxicas, e para que se evitem crimes e tantas outras coisas que estão acabando com nossa sociedade.

• O senhor se sente discriminado por não integrar o mercado editorial brasileiro?Não. Não me considero discriminado, pois até o momento nada fiz para integrar o mercado editorial brasileiro. Há muito tempo escrevo, mas a vida de escritor não é fácil. Publicar livro só por publicar não vale a pena. É preciso fazer algo que consagre nosso nome. Depois poderemos publicar todos os livros que desejarmos.

• Qual dos imortais da ABL o senhor mais admira?
Gostaria de admirar todos, mas infelizmente os conheço só pela mídia. Carlos Heitor Cony é um escritor consagrado no Brasil, não precisa de elogios e badalações, pois é um vencedor. Paulo Coelho é um escritor internacionalmente reconhecido, e tive a felicidade de disputar minha primeira eleição com ele. A escritora Nélida Piñon é consagrada no Brasil e no exterior. Todos os escritores acadêmicos da ABL são merecedores da vaga que ocupam, pois são de fato escritores com E maiúsculo. E professo grande admiração pelo doutor Ivo Pitanguy, que tem feito verdadeiros milagres na área da cirurgia plástica.

• O senhor pertence ou simpatiza com algum grupo ou movimento literário da atualidade?
No momento, não, mas depois que passei a concorrer a uma vaga na ABL pude ver que suas atividades são intensas. Não é só a chás da tarde que se resume a vida dos acadêmicos e, sim, a muitos eventos, palestras e edições de livros. Em suma, considero a ABL o melhor grupo literário da atualidade.

• Na sua opinião, por que não há imortais paranaenses na ABL? Que escritores do Paraná poderiam se candidatar?
Acredito que existem grandes escritores no Paraná, mas nem todos desejam fazer parte da ABL. Como a academia tem admitido no seu quadro social diversos segmentos da sociedade, tenho a certeza de que o médico Moisés Paciornick — que já tem importantes obras falando sobre sua experiência e conhecimento na área médica — está, sem dúvida, apto a ocupar uma cadeira. Outro é um crítico de respeito: Wilson Martins.

• O senhor também é músico. O que já compôs?
Na verdade, não me dediquei à música. Estudei cerca de quatro anos na Escola de Belas Artes para aprender a tocar violino. Depois, tive vários professores particulares, mas eles eram muito impacientes e não paravam de gritar, exigir mais e mais, por mais que eu procurasse fazer o melhor. Saturado com os gritos, que me soavam como um diapasão no momento de afinar as cordas do instrumento, acabei desistindo.

• Como o senhor gostaria de ser lembrado?
Muita gente acha que sou uma cópia do Roberto Carlos e me pedem até autógrafos. Outros me chamam de Michael Jackson. Alguns de Elvis Presley. No Japão, me chamavam de Roberto Carlos japonês e de Elvis. Claro que não sou tão parecido com eles, mas quando passo em frente ao Colégio Leôncio Corrêa, no Bacacheri (bairro de Curitiba), rapazes e moças me pedem autógrafos. E quando caminho pelas ruas da city, as pessoas — homens, mulheres e crianças — me olham como se eu chamasse a atenção. A razão de tudo isso fica no ar… De fato, a verdade eu não sei. Para ser franco, não sei como gostaria de ser lembrado: jornalista, poeta, escritor, persistente, sonhador.

Poema de Paulo Hirano

Não me deixem combalido

Não me deixem combalido…
Tomando sol, chuva e brisas…

As brisas das manhãs
e das tardes são agradáveis…
Mas nas horas mais quentes do dia
e nas solidões noturnas,
deixam-me combalido e muito só…
Ninguém fica por perto nesses momentos…
Eu vivi… Lutei e conquistei um lugar ao sol.
Mas o sol quente do Rio de Janeiro,
a chuva morna na praia de Copacabana
e as brisas noturnas são demais…
Gostei da praia;
dessa praia memorável por onde caminhei…
Descansei nesse banquinho tosco
e até inspirei poemas, poesias e crônicas.
Agora estou em outras galáxias…

Mas às vezes sinto saudades
e desejo estar outra vez
simplesmente sentado no mesmo banquinho
contemplando o mar, as ondas

e as curvas das morenas da praia de Copacabana.

Seja imortal

Para concorrer a uma vaga na ABL, basta que você seja brasileiro e tenha publicado pelo menos um livro na vida. É necessário também enviar à academia, juntamente com seu pedido de inscrição, um currículo e, se possível, a sua obra anexada. Informe-se sobre o endereço da ABL no site da instituição: www.academia.org.br.

As inscrições para a cadeira número 7, que pertencia ao embaixador Sérgio Corrêa da Costa, encerraram-se no dia 6 de novembro. A eleição acontece no dia 9 de março de 2006, às 16 horas.

Os adversários de Hirano

Nelson Pereira dos Santos
Cineasta. Diretor, roteirista, argumentista e produtor. São dele os filmes Rio 40 graus, Boca de Ouro, A terceira margem do rio, Na estrada da vida, Memórias do cárcere e Vidas secas. É autor do livro Três vezes Rio.

Dario Castro Alves
Ex-embaixador do Brasil em Lisboa. É autor de Era Tormes e amanhecia.

Waldemar Cláudio dos Santos
Teatrólogo e autor de óperas. Escreveu Oscilações da vida, O Brasil e suas riquezas e Quatro amores.

Jorge Tannuri
Engenheiro, economista e “recordista de sonetos”. Com mais 2.100 publicados, pretende-se o maior sonetista da história da humanidade. É autor de Sonetos do último quarto do século 20.

Ronaldo Cunha Lima
Político e jurista, ex-governador, ex-senador e hoje deputado federal pela Paraíba. É autor de Versos gramaticais, Poemas amenos, amores demais e Gramática poética.

Luís Henrique Pellanda

Nasceu em Curitiba (PR), em 1973. É escritor e jornalista, autor de diversos livros de contos e crônicas, como O macaco ornamental, Nós passaremos em branco, Asa de sereia, Detetive à deriva, A fada sem cabeça, Calma, estamos perdidos e Na barriga do lobo.

Rascunho