A descobridora de talentos

A agente literária italiana Patrizia di Malta empenha-se em divulgar a literatura brasileira na Europa
Patrizia di Malta
01/11/2004

Entrevista concedida a Ernani Rosa, Mário Goulart e Sérgio Fantini

O Brasil é uma esculhambação, a gente sabe, mas tem horas que parece uma fantasia que raia o absurdo.

Se você tem coluna no jornal, se você aparece todo dia na televisão, escreve um romance e pode publicá-lo com qualquer uma das grandes editoras. Não interessa se presta. Não interessa nem se é legível. Mais, os dois ou três agentes literários que existem aqui estarão ansiosos para lhe oferecer seus serviços. É, esses agentes oferecem seus serviços justamente para quem não precisa deles, ou precisa muito.

Ou você conhece algum talentoso anônimo que encontrou abertas as portas das agências? Você conhece alguma agência que tratou de descobri-lo e depois foi à luta? A menos que esse desconhecido tenha muita, mas muita sorte, ou QI (Quem Indique), ele vai pastar um bocado.

Nesse quadro, surge uma italiana. Até aí, tudo bem. Mas essa italiana foi uma cantora de sucesso, teve problemas com sua carreira, sabe português, gosta de literatura e tem saudade da gente. Essa italiana resolveu fazer a parte difícil do serviço editorial. Pode? Um enredo desses não parece verossímil nem na novela das seis.

Mas Patrizia di Malta existe. Tenho provas. Com a palavra, as testemunhas de defesa.

Daniel Galera, da editora Livros do Mal: “Que eu sabia, os primeiros livros de autores brasileiros que a Patrizia conseguiu negociar lá na Itália (pela Arcana Libri, de Milão, comprada há pouco pela Fazi) foram o meu Dentes guardados e o Ovelhas que voam se perdem no céu, do Daniel Pellizzari. Eu acho bacana que a Patrizia tenha chegado até nós por uma pesquisa na internet: ela encontrou o nosso site, se interessou pela editora e pelos nossos livros, e veio atrás da gente. Foi uma surpresa sermos abordados por uma agente internacional, e uma surpresa maior ainda quando, apenas uns três meses depois, ela nos mandou um e-mail informando que já tinha conseguido uma editora. Me admirou na Patrizia o empenho em conhecer e buscar escritores brasileiros de todos os graus, desde os independentes, iniciantes e quase desconhecidos como nós, até figuras mais veteranas e de obra respeitada como o João Gilberto Noll”.

Luiz Ruffato: “Meu primeiro contato com a Patrizia foi em São Paulo, em 2002, início do ano. Ela estava por aqui fazendo as primeiras sondagens para tentar estabelecer uma relação concreta com escritores brasileiros. Assinamos um contrato e no início de 2003 ela já havia conseguido uma editora para o Eles eram muitos cavalos, a Bevivino Editore, de Milão. Em abril de 2003, o livro era lançado e estive, por conta da editora, durante 10 dias em Milão. No início deste ano ela, conseguiu vender meu livro pra França, Métaililé Éditions.

“Eu não tenho dúvidas de que, no nosso mesquinho meio literário, não se dá ainda o devido valor ao trabalho que a Patrizia está fazendo pela cultura brasileira na Europa. Ela está sem dúvida alguma no mesmo patamar que estiveram, na década de 70, agentes como a alemã Ray-Güde Mertin, o norte-americano Thomas Colchie e a espanhola Carmen Barcells. Com uma vantagem: ela conhece profundamente a cultura brasileira, e não só a literatura brasileira”.

Mas, bem ou mal, Ruffato e Galera são conhecidos. Vamos então a um exemplo de autor clandestino, desconhecido até no prédio onde mora. Maria Clara Tajes me deu o endereço da Patrizia e me ordenou que eu entrasse em contato. Obedeci, pelas 8:30 de uma manhã, com um bilhete: olha, tenho dois romances, um policial pegando as rebarbas da ditadura e um sexo, drogas & roquenrol nos anos 70. Pelas 9, Patrizia me respondeu: manda uma amostra. Mandei, pelas 10. Às 14, ela de novo: estou gostando, me manda o livro em papel. Uma semana depois, estávamos assinando um contrato.

Acostumado com a lerdeza e o desinteresse dos editores tupiniquins, para não dizermos nada mais enfático, falei de minha surpresa com tanta rapidez. Patrizia me disse: “sou curiosa e estou conectada o tempo todo”. É simples, não? É preciso reconhecer ainda que as observações que ela fez sobre meus livros foram algumas vezes mais perspicazes do que as que constam nas poucas resenhas que mereci. (Erani Rosa)

 

Patrizia di Malta

• Você morou no Brasil, nos anos 70. Como foi isso?
Eu tinha mais ou menos quinze anos, meu pai trabalhava como dirigente na indústria automobilística, na Chrysler. A Alfa Romeo precisava de pessoas de experiência para trabalhar no Brasil, na Fábrica Nacional de Motores, em Duque de Caxias. Naquela época meu pai, no tempo livre, tocava flauta com alguns amigos jazzistas, adorava bossa nova, passava horas escutando João Gilberto. O Brasil o fascinava, e muito. E estava também pensando em se separar da minha mãe. Aceitou ir para aí, e depois de alguns meses fez as pazes com mamãe, que foi para aí com ele. Na verdade, eu e minha irmã, cinco anos mais velha, já na faculdade, ficamos aqui com uma tia estudando de novembro até maio, e morando com nossos pais no Brasil de junho até o final de outubro. Nunca cheguei a estudar no Brasil. Aprendi o português vivendo, falando, assistindo televisão. E cantando.

• Voltou depois?
Deixei o Brasil em 1978, depois de ter ficado um ano inteiro aí. Voltei em 1990. Naquela época eu era cantora.

• Você pode falar um pouco sobre esse tempo?
Eu fazia parte de um conjunto chamado Gruppo Italiano. Duas moças e três rapazes. Dois deles tinham sido colegas no colégio. Eu, morena, era a front-girl, e escrevia também as letras, junto com a outra moça, loira, que não cantava, mas era responsável pelas capas, a “imagem” do grupo, as fotos, etc. O primeiro LP foi lançado em 1981; em 1983 chegou o grande sucesso, com o compacto Tropicana, primeiro lugar nas paradas daquele verão, tocado até hoje pelas rádios. Pelo título já dá pra imaginar como era: uma mistura de tropicalismo e Kid Creole. Eu era algo entre Carmem Miranda e Betty Boop. Claro que ter vivido no Brasil me ajudou muito a interpretar esse papel. Depois de pouquíssimo tempo, a gente começou a brigar por motivos de protagonismo. Os garotos não suportavam que as câmaras estivessem sempre em cima de mim, os jornalistas, os fãs, etc. E acabaram fazendo uma porcaria. Tínhamos que escrever uma música para o Festival de San Remo, em 1984. O Festival de San Remo é até agora o maior festival de música popular italiana. Cada um de nós escreveu uma música, foi escolhida a minha. Mas como eu ainda não tinha sido examinada pela SIAE (associação de autores e editores), não podia registrar minha música e participar do show (e ganhar os direitos autorais sobre ela). Os garotos fizeram a proposta de assinar eles mesmos a música e depois me entregar o dinheiro no dia em que chegasse. Eu era muito nova e eles eram meus coleguinhas, por que eu deveria desconfiar? Acabei deixando eles assinarem. Mas quando o dinheiro começou a chegar (e continua até hoje), eles falaram que aquilo não era verdade, que nunca tinha acontecido. Fiquei puta e saí do grupo. E nunca mais quis saber de música tropical! Os meus últimos CDs, de 1998 (Onde) e de 2001 (Vite Possibili), são de soul eletrônico (visite o site www.dimalta.com).

• Você pensa, daqui para frente, passar parte do ano no Brasil. Seria por motivos profissionais (seu trabalho como agente ou sua carreira como cantora e compositora) ou por nostalgia?
Foi justamente por causa da nostalgia que tive a idéia de trabalhar com o Brasil. Me manter ligada com o país de vocês me dá uma grande sensação de — como dizer — liberdade, bem-estar, calor humano, espaço. Na Europa, temos muita falta de espaço, vivemos apertados. Mas quando a gente se cruza na rua, finge não reconhecer, não cumprimenta. Quando volto para o Brasil, respiro mais à vontade. É por isso que gostaria de passar metade do ano aí, e metade na Itália. No momento, minha filha, Anita, de dez anos, conseguiu entrar no melhor colégio artístico-musical da Itália, onde vai cantar, tocar, atuar, desenhar… acho isso muito importante para a formação dela. Por isso, por enquanto, prefiro manter minha residência na Itália e visitar o Brasil todos os anos. No futuro, quem sabe…

• Você tem uma grande ligação com a música brasileira. E com a literatura? Tudo começou também nos anos 70?
Não, naquela época eu não estava muito interessada em literatura brasileira, só na música. Como já disse, não cheguei a estudar no Brasil, e pouco sabia de literatura lusófona, fora o Jorge Amado. A música me envolvia muito mais, eu queria ser cantora. Gostava muito do Caetano, da Bethânia, dos Secos & Molhados.

• Qual foi o primeiro autor brasileiro de que você gostou?
Conheci e gostei do Jorge Amado quando ainda morava na Itália.

• O que você recomendaria, da literatura brasileira, aos estrangeiros?
Isso varia muito de um país para outro, da idade do leitor, do que ele gosta. Mas em linhas gerais recomendaria narrativas sem muitos malabarismos, bem contadas. Em particular gosto de contos brasileiros, acho que a Europa está muito prevenida contra esse gênero, deveria descobrir. Estou tentando ajudar, preparando antologias de contos, a quebrar o gelo.

• E para os próprios brasileiros?
Recomendaria menos os mais herméticos, os mais experimentais.

• Existe algum paralelo entre a literatura/autores que você está representando ou buscando representar com os autores italianos/europeus?
Em alguns casos, sim. Por exemplo, apareceu na Itália, no fim dos anos 90, uma geração de contistas chamados “Cannibales” muito parecida com os “transgressores” urbanos brasileiros (não me refiro apenas aos autores da antologia organizada pelo Nelson de Oliveira para a Boitempo).

• Como se tornou agente? Quando? Por quê?
Em 2001, falei para uma amiga que trabalhava numa importante editora que gostaria de traduzir livros do português para o italiano. Ela me disse que nunca tinha avaliado livros brasileiros. Perguntei para ela se isso era um preconceito, algo como “os autores brasileiros não prestam”. Me respondeu que não era bem assim, o problema era que os livros brasileiros não chegavam aqui! Aí tive a idéia: se eu achasse livros brasileiros bons, perguntei, você gostaria de avaliar? Ela disse que sim, claro. Assim fui pesquisando entre revistas literárias, prêmios, sites de escritores, entrei em contato com editoras… e descobri que, quase na totalidade dos casos, os autores brasileiros não tinham agente. Lembrei de quando meu pai me falava da dificuldade de trabalhar no Brasil: “falta de infra-estrutura”. Vejo hoje que ele estava certo, era justamente isso.

• Por que o Brasil?
Porque falo português e posso avaliar os textos. Porque é um território pouco explorado, onde posso achar livros e escritores novos ou esquecidos, e contatá-los sem ter os clássicos agentes americanos fungando nas costas. Porque todo mundo me respondeu quando eu escrevi, me abriu a porta quando cheguei. O contato humano foi muito importante, me deu muita força. Mas a razão mais importante talvez seja esta: como disse, tive um período de grande sucesso nos anos 80 como cantora, com um selo importante, e depois, quando gravei meus discos solos no fim dos anos 90. Nunca consegui “estourar” porque meus discos saíram por selos que não tinham energia ou dinheiro para sustentar o trabalho de difusão e promoção depois do lançamento do disco. Se ninguém sabe de tua existência, como pode gostar ou não gostar? Somente quem chega nas primeiras posições do hit parade de vendas tem uma chance de ser conhecido no exterior. E nem sempre isso significa que o produto, disco ou livro, seja bom. Pensei: com certeza o Brasil deve ter muitas pequenas editoras escondidas, publicando coisas diferentes que nunca vão vender milhares de cópias, sendo o Brasil um país onde tem mais farmácias que livrarias! E eu vou descobri-las. E foi isso que aconteceu.

• Por que a literatura brasileira ficou isolada até agora? Será por que é de “segunda classe” mesmo?
Existe um problema de língua, pouco falada; o resto da América Latina fala espanhol, o Brasil é isolado. E um livro traduzido precisa vender mais que um livro em língua original, é preciso investir na tradução, é preciso ter certeza de que o dinheiro voltará. Existe um problema de identidade; alguns escritores brasileiros sofrem de um complexo de inferioridade, e tentam imitar escritores americanos, mas as referências são diferentes, o background cultural também, tudo soa falso, e isso incomoda o leitor europeu. Existe o vício absurdo de pensar que, quanto mais experimental o estilo, mais o escritor vai ser admirado e premiado. Nada de mais errado. Escrever e ler são formas de comunicação. O diktat de um escritor deveria ser: escrevo para que alguém possa entender o que digo e experimentar a mesma emoção que eu senti. Não para exibir minhas acrobacias lingüísticas. E, às vezes, um texto desse tipo não pode ser traduzido mantendo o mesmo valor, ou não vale a pena, economicamente, de se dar a esse tipo de trabalho.

• A que você atribui a quase inexistência de agentes brasileiros? Você acha que existe mercado para sua empresa aqui?
A inexistência de agentes depende em parte de uma organização do trabalho pouco especializada (“falta de infra-estrutura”), e em parte do problema da língua. Sendo o português uma língua pouco falada e estudada, fica difícil para um estrangeiro, agente ou editor, avaliar os livros. Não fiquei rica até agora, não sei se um dia vou fazer fortuna graças aos escritores brasileiros. Mas acredito que a situação vai melhorar, daqui para frente. Não sou a única agente interessada nos escritores brasileiros, deve ter uma razão…

• Agente tem faro? Isto é, sente, pressente quem é ou será um bom autor, no sentido da qualidade e/ou do resultado editorial, a partir de certos indícios? Que indícios são esses? É preciso, por exemplo, ler um livro inteiro, ou mais de um, de cada candidato a autor representado?
Claro que deveria ter. Quero ser sincera: não conheço a literatura brasileira tão bem assim, mas confio muito no meu instinto. Sempre consegui prever com muita antecedência o que as pessoas precisavam, em relação à música e à moda. Acontecia às vezes de eu não ter dinheiro para realizar os meus pressentimentos, e outros chegavam com minha mesma idéia realizada e se davam bem. Dessa vez eu comecei a ter a sensação de que a curiosidade pelo Brasil estava aumentando, e agora todo mundo pode ver que eu estava certa: na Europa só se ouve falar de Brasil, seja música, moda, design, futebol, onde passar as férias… Eu tinha previsto isso três anos atrás. E, falando dos escritores, posso dizer se algo não funciona em alguns casos depois das primeiras páginas, em outros preciso chegar até o fim. E nem sempre encontro editoras dispostas a investir num autor, mesmo achando o autor muito valioso. O que as editoras querem realmente é vender muitas cópias de um livro, ver um retorno, e não publicar obras-primas literárias que interessem a poucos leitores. O problema é achar a editora certa, no momento certo.

• O que os italianos, ou os europeus em geral, esperam encontrar nos brasileiros? O exotismo ainda conta muito?
O que os estrangeiros esperam encontrar na Itália? Cada um procura nos outros algo que desperte a curiosidade, algo diferente, que podemos chamar de “exotismo”. Seja isso uma descrição de um lugar, de um costume, um jeito diferente de pensar, de agir, um perfume, um sabor, um jeito de fazer sexo. Ninguém está interessado em ver uma cópia pior que o original de qualquer coisa. Jorge Amado tem a capacidade de comunicar a natureza do próprio país, a alma dos baianos, os sentimentos, as cores, os perfumes. Isso ajuda a viajar ficando deitado com o livro nas mãos. Mas não é preciso ser um tipo de narrador como Amado, e evocar atmosferas exóticas. A atmosfera urbana e fragmentada de São Paulo é algo que Luiz Ruffato conseguiu evocar muito bem em Eles eram muitos cavalos. Alguém na Itália escreveu que é “o melhor guia de São Paulo que se pode encontrar”.

• Há algum tema que os italianos, ou os europeus em geral, automaticamente esperam dos autores brasileiros?
Não acredito que seja um tema, mas a capacidade, a coragem de ser brasileiro, sem imitar os outros, e ao mesmo tempo conseguir comunicar, explicar, participando da história que se conta. Se os brasileiros sabem, por exemplo, falar de sexo melhor que os outros, bem! — gostamos de ler e participar de vossa maneira de pensar e fazer sexo. Mas pode ser qualquer outra coisa.

• O que os europeus mais lêem? Que tema, que gênero.
De tudo! Talvez a grande diferença é que lemos menos contos, gostamos mais de narrativas de fôlego. Romances bem compridos. Com certeza, lemos mais ficção científica e policial que os brasileiros, e menos auto-ajuda.

• Você acha que nossa literatura tem a mesma vitalidade de nossa música popular?
No momento, sinceramente, acho que não. A música brasileira é uma fusão de cultura portuguesa, negra, índia, é algo completamente original, é copiada ou serve de inspiração para outros estilos musicais no mundo inteiro. Tem na música brasileira uma variedade de estilos, uma energia, uma invejável habilidade dos músicos e dos cantores. A música brasileira, qualquer uma, popular ou erudita, seja choro, samba, MPB ou bossa nova, é exótica e internacional, orgulhosa da própria matriz e eterna. Podemos dizer o mesmo da literatura brasileira, em qualquer nível?

• Você já disse que a imprensa brasileira endeusa muita porcaria e que muitos bons livros passam desapercebidos. Não é assim em todo lugar? Qual a parte de culpa dos editores?
A culpa é do marketing. A culpa é do pensamento global. A culpa é das pessoas que não têm suficiente interesse e cultura para procurar elas mesmas o que precisam, em vez de comprar aquilo que é mais vendido. Como na Itália, onde algumas pessoas votam no Berlusconi porque “é o mais votado”, “se ele ficou rico assim, e eu votar nele, eu também vou ficar rico”. Por que fazer o que todos fazem, e não procurar o que é mais certo para ti? Comprando um livro de sucesso, o leitor se sente “bem-sucedido”? Torcendo para o time mais forte, o torcedor se sente também mais forte? Outro problema está na falta de dinheiro das pequenas editoras; elas não têm o mesmo poder das maiores, nem o mesmo número de pessoas trabalhando para a divulgação na imprensa. Mas às vezes é suficiente saber trabalhar bem, mesmo sem dinheiro. Vejamos, por exemplo, a Livros do Mal; eles escolheram um nome interessante, que explica bem o projeto da editora, escolheram textos que lhes deram uma identidade bem forte, as capas são muito bonitas e profissionais, e o site é perfeito. Para mim, navegando na Internet, ver isso tudo despertou muito a minha curiosidade. E — incrível! —quando recebi os textos, eles eram bons! Uma imagem bem construída, comunicativa, coerente com o conteúdo. É isso que a Europa quer. E pra fazer isso não é preciso muito dinheiro, mas muita cabeça, isso sim.

• Você está organizando algumas antologias de contistas brasileiros. Como são elas e para quais editoras?
No momento, não posso fornecer detalhes. Mas estou selecionando contos para uma importantíssima editora italiana, que quer investir nos contistas brasileiros. E depois gostaria de exportar essa antologia para o mundo inteiro. A antologia que decidi organizar é focada em sexo, porque — é inegável — os autores brasileiros têm mais fantasia, e experiência talvez, e estilo, e naturalidade ao falar em sexo que autores de outras nacionalidades. É algo muito peculiar, especial, de que deveriam ficar orgulhosos. Não é gozação, estou falando sério. Pensem na Hilda Hilst, no João Gilberto Noll, no Sérgio Sant’anna, no José Agrippino de Paula… e nos jovens contistas contemporâneos. No início esse sexo excessivo me espantava, agora que acostumei, outros autores internacionais falando em sexo me parecem puritanos, me aborrecem…

• Qual sua expectativa sobre essas antologias em relação ao mercado italiano? O que seria uma venda, em números, promissora?
Esgotar a primeira edição de 3 mil cópias já seria um sucesso, num país pequeno como o nosso, mas se eu conseguir divulgar o acontecimento na imprensa como eu quero (organizando readings com músicas e imagens, entrevistas, etc.), talvez consiga despertar a atenção e incrementar as vendas. Por isso, escolhi começar falando em sexo: é algo que funciona sempre. Marketing, queridos. E acredito que possa ser uma porta aberta para os livros individuais: para quem realmente vale. Eu os apresento para o mundo, o resto é com eles.

Rascunho