Viagem folhetinesca

A partir deste número, o Rascunho inicia a publicação em capítulos mensais do romance O inglês do Cemitério dos Ingleses, de Fernando Monteiro
Fernando Monteiro, autor de “O Grau Graumann”
01/07/2005

Em 2002, numa entrevista para o Caderno G, suplemento cultural do jornal paranaense Gazeta do Povo, o escritor recifense Fernando Monteiro discorria sobre a perda de interesse dos leitores contemporâneos pela literatura. Para recuperar essa platéia subestimada e salvar da catástrofe um relacionamento já tão fragilizado, seria necessário, segundo ele, “produzir significação”. Significação — um elemento simples, algo que “bate com o futuro, com o que está em processo”. A fim de defender essa idéia, Fernando Monteiro procurou bons exemplos no século 19. “Os romancistas de folhetim, como Balzac e Dickens, escreviam e as pessoas os acompanhavam”, fez questão de lembrar. “Será que não estava acontecendo ali uma perfeita harmonia entre o que eles escreviam e a sensibilidade de seu tempo? Provavelmente.”

A publicação em capítulos mensais de O inglês do Cemitério dos Ingleses no Rascunho, portanto, é algo que há muito vem sendo engendrado e amadurecido por Monteiro. O livro — que o autor espera concluir à medida que os meses (ou anos) forem se passando — é, felizmente, de classificação complexa. Escrito “à velha maneira” folhetinesca, mas dirigido a um leitor enfim reencontrado. Trata-se de uma aventura? Talvez. Há nela ecos de clássicas narrativas policiais? Há. Mas é pouco definir o novo romance de Fernando dessa forma. Parafraseando Xavier de Maistre, o escritor lança pistas: “É uma busca à volta do ‘quarto’ que inclui Recife, Londres, alguns lugares perdidos do Oriente — Bagdá, inclusive — e alguns dos viajantes pelo Brasil colonial e imperial”. Já no prólogo do trabalho, publicado nesta 63.ª edição, podemos identificar o fantasma da inglesa Maria Graham, pintora e escritora que por aqui perambulou há quase 200 anos.

Para o Rascunho, é uma experiência enriquecedora. “Publicar O inglês do Cemitério dos Ingleses, sob esse formato, pelo resgate de significados que propõe e pela intensidade da escrita de Fernando, tão rica de imagens e conceitos, é um privilégio para qualquer veículo literário do Brasil”, afirma Rogério Pereira, editor do jornal. “Uma iniciativa como essa — que, levando em conta a tiragem de 5 mil exemplares do Rascunho, atingirá no mínimo 10 mil leitores por mês — será  produtiva para todos os envolvidos: o autor, o jornal que o publica e, principalmente, seus leitores.”

De resto, é ler a obra que se inicia na página 28, acompanhar de perto a construção de um livro impossível de resumir, pressentir ou adivinhar. Dele, só se sabe o que Monteiro nos adianta: que “viajará em várias direções e sentidos”. Típico de seu autor.

Fernando Monteiro
É escritor, poeta e crítico de arte e de cinema. É autor de O rei póstumo (1976, vencedor do Prêmio Othon Bezerra de Mello, da Academia Pernambucana de Letras), Ecométrica (1984, vencedor do Prêmio Nacional da União Brasileira de Escritores), Brennand (1987, vencedor do Prêmio Santa Rosa, da Funarte), Aspades ETs Etc. (1997), A cabeça no fundo do entulho (1999, vencedor do Prêmio Bravo!), T. E. Lawrence: morte num ano de sombra (2000), A múmia do rosto dourado do Rio de Janeiro (2001), O Grau Graumann (2002) e Armada América (2004). Colabora ou já colaborou com diversos jornais e revistas, como Bravo!, Colóquio/Letras, Continente Multicultural, Jornal do Commercio (PE), Estudos Universitários, Encontro, O Tempo (MG) e este Rascunho.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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