Três mulheres e muitos enigmas

Resenha do livro "Três mulheres de três PPPês", de Paulo Emílio Sales Gomes
Paulo Emílio Sales Gomes, autor de “Três mulheres de três PPPês”
01/04/2007

Três mulheres de três PPPês, reunião de três novelas de Paulo Emílio Sales Gomes, é o primeiro de dez volumes planejados para repor às livrarias a obra completa deixada pelo jornalista, crítico de cinema e escritor paulistano, falecido há exatamente trinta anos. Com organização de Carlos Augusto Calil, os títulos abarcam de uma novela inédita — Cemitério, ficção autobiográfica que deve sair em maio ou junho — a perfis e estudos como Vigo, vulgo Almeryda e Jean Vigo e Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte, previstos ainda para 2007. Além dos textos de Duas vezes com Helena, Ermengarda com H e Duas vezes ela, restaurados a partir da comparação com edições variantes e os manuscritos originais, acompanha Três mulheres de três PPPês uma fortuna crítica respeitável, assinada por Zulmira Ribeiro Tavares, Roberto Schwarz, J.G. Nogueira Moutinho, Modesto Carone, Celso Luft e Alexandre Eulálio, entre outros.

Duas vezes com helena conta a história de um homem às vésperas dos 50 anos, que reencontra Helena no vilarejo de Águas de São Pedro, 25 anos depois de tê-la visto pela última vez. Na companhia do marido, um benfeitor do protagonista-narrador desde os tempos em que este cursava o ginásio, Helena precisa passar a limpo o longo período em que os três estiveram separados. Ermengarda com H oferece, como centro de interesse, uma mulher que se casa com Polydoro (mesmo nome do personagem principal da novela de abertura, embora não exista vinculação necessária entre os dois). Diferenças sociais que mais os separam do que unem, misteriosos diários e alguma ausência de comunicação dão a tônica de uma trama que guarda, à semelhança de Duas vezes com Helena, elementos de suspense policial. Duas vezes ela, a última do conjunto, traz novamente um tal Polydoro como condutor de um drama conjugal, que envolve adultério e declínio da potência sexual, entre ele, “no limiar da velhice”, segundo a fórmula que condensa, e a balzaquiana Ela.

Interessante, Três mulheres de três PPPês está, entretanto, longe de ser “a melhor prosa brasileira desde Guimarães Rosa”, síntese com que o crítico Schwarz encerra a apresentação da estréia de Sales Gomes no terreno da imaginação (algo compreensível, quando se leva em conta que Schwarz escreveu Ao vencedor as batatas e Um mestre na periferia do capitalismo, ensaios interpretativos sobre Machado de Assis sob uma perspectiva sociológica). A verdade é que Três mulheres de três PPPês fornece material abundante para investigação, pelo prisma que agrada a Schwarz ou em termos de carpintaria literária, o que atestam as reedições regulares que obteve e a segura avaliação que conquistou (até Antonio Candido, decano dos críticos nacionais, brindou-o com meia dúzia de linhas no panorama A nova narrativa, incluído em A educação pela noite). Em tudo justificável, já o seria pela menção do quanto as três novelas são bem redigidas, curiosas e, principalmente, ambíguas, uma característica da fabulação que não se esgota em uma única leitura.

Três mulheres de três PPPês
Paulo Emílio Sales Gomes
CosacNaify
200 págs.
Eduardo Lanius
Rascunho