Francisco, como é que você faz uma coisa dessas?
Depois que publicou o livro de contos Escreva, Querida, em 1996 (Mazza Edições), não nos deu a mínima bola. Não trocou uma palavra. Ficou nesse silêncio. Uma linha sequer, nada.
Dificuldade de editora, tivesse falado.
Briga literária a gente resolve na porrada. Rolou sacanagem, é isso? A gente faria o que fosse preciso. Até matava.
Outro que também não dá mais as caras é o Jaime Prado Gouvêa, autor, entre outros, do Fichas de vitrola (Editora Guanabara, 1986). Vocês combinaram? Eliminaram os mineiros do mapa? Quem eliminou? Eixo Rio-São Paulo? Não acredito.
Vou falar com Luiz Ruffato. Falar com Sérgio Fantini. Carlos Herculano, o que me diz? Tião Nunes, e aí?
Marçal Aquino me falou entusiasmado de outro mineiro, o Wander Piroli. A gente, por aqui, faz um esforço danado. Coletivo. Para vocês não esquecerem da gente. Mandar sempre um aviso, um parágrafo.
Por quê, Francisco de Moraes Mendes?
Deixar a gente esperando tanto tempo por este novo livro, A razão selvagem? Joca Reiners, da Ciência do Acidente, mais uma vez publica o melhor da prosa brasileira. Já publicou Karam, de Curitiba. Publicou o livro mais estupendo do Marçal, o Faroestes, etc. e tal. O Nelson de Oliveira.
Não podia faltar você. E você faltava.
Não dava o ar da sua palavra, precisa. Palavra sem gordura, entende? É maravilhoso o conto Redes, em que você nos joga na teia de “uma aranha comum” que “tem oito patas e numa delas uma deficiência. Ela carrega uma pata rígida, que me comove porque não se move, uma pata morta. Como todos nós arrastamos nossos pedaços mortos”.
Você enche a sua prosa de um vigor surrealista. Sabe cortar como Cortázar. Depois vai costurando os labirintos da história. O que falar, por exemplo, do cinematográfico Apartamentos? E o conto A crítica da razão selvagem, então? É covardia.
Vou ligar para Luiz Vilela.
Rosa, Rubião, Lúcio Cardoso, Nava, vou apelar para o centro espírita. Quero uma comunicação. Exijo uma explicação.
Escritor é bicho esquisito.
Olha, isso não é uma resenha, não é uma dissertação. É um depoimento, entenda. O mais rápido e o mais sincero possível.
Só para dizer e repetir e exigir, sempre.
Desesperadamente.
“Escreva, querido.”